29 jun, 2023 - 08:57 • Lusa
A Agência Espacial Europeia (ESA) lança no sábado, a partir dos Estados Unidos, o telescópio Euclid, que vai explorar o lado invisível do Universo com "mão" visível de cientistas, engenheiros e empresas portuguesas.
A descolagem do foguetão Falcon 9, da empresa SpaceX, que transportará o telescópio espacial está prevista para as 16h11 (hora de Lisboa) da base da agência espacial norte-americana (NASA) em Cabo Canaveral.
Caso falhe esta primeira tentativa de lançamento há uma segunda oportunidade no domingo.
Portugal é um dos Estados-membros da ESA diretamente envolvidos na missão, com o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) a liderar uma das componentes científicas cruciais, a do planeamento do rastreio do céu, e seis empresas - FHP, Altran, GMV, Active Space, Deimos e Edisoft - a fabricarem diversos componentes do telescópio, como proteções térmicas e sistema de testes de controlo em órbita.
Segundo a agência espacial portuguesa PT Space, que integra o comité de direção da missão, Portugal arrecadou mais de 4,5 milhões de euros em contratos celebrados entre empresas e a ESA.
No centro de controlo da missão, na Alemanha, vai estar um português a codirigir as operações de voo: Tiago Loureiro, engenheiro aeroespacial que há 19 anos trabalha na ESA.
A missão Euclid é a primeira missão espacial concebida para tentar compreender o que está, efetivamente, a acelerar a expansão do Universo e que, segundo as teorias cosmológicas, se deve à energia escura, uma misteriosa força que se opõe à atração gravitacional.
Juntas, a energia escura e a matéria escura (matéria invisível, que não emite nem absorve luz) compõem 95% do Universo, que continua por desvendar.
O telescópio Euclid - assim chamado em homenagem ao matemático da Grécia antiga Euclides, considerado o "pai" da Geometria - vai procurar "fazer luz" sobre o Universo invisível observando durante seis anos milhares de milhões de galáxias, permitindo obter em 15 dias imagens de uma área "varrida" pelo telescópio espacial Hubble em 30 anos.
Na realidade, a missão vai permitir medir a geometria do Universo e ajudar a esclarecer do que é feito na sua totalidade através da observação do desvio da trajetória da luz provocado pela matéria escura nas galáxias e aglomerações de galáxias, parte do mundo visível, que totaliza apenas 5% da composição do Universo.
Ao mapear as posições das galáxias no espaço a três dimensões, possibilitando estudar como estão agregadas, o telescópio irá dar informações sobre as propriedades da energia escura, numa "viagem no tempo" até aos últimos dez mil milhões de anos de formação do Universo (a sua idade estimada é de 13,8 mil milhões de anos).
Equipado com dois instrumentos, que permitirão obter imagens de galáxias distantes com um detalhe sem precedentes e ajudar a medir com precisão as distâncias a que estão dezenas de milhões de galáxias, o Euclid será colocado a 1,5 milhões de quilómetros da Terra, num ponto estável, sem interferência da luz do planeta, da Lua e do Sol, onde chegará um mês depois de ter sido lançado.
Espera-se a primeira divulgação de imagens em novembro e os primeiros dados científicos em dezembro de 2024, segundo o IA.
A missão da ESA custou cerca de 1,4 mil milhões de euros e contou com a colaboração da NASA num dos instrumentos, no local da descolagem, no financiamento do trabalho de equipas científicas e na criação de um centro de processamento de dados nos Estados Unidos.
O lançamento do telescópio chegou a estar previsto para 2020 e posteriormente para 2022, da base da ESA, na Guiana Francesa, num foguetão russo Soyuz.
Contudo, em 2022, a ESA cortou relações com a Rússia quando o país invadiu a Ucrânia, em fevereiro.
Tiago Loureiro, engenheiro aeroespacial, já se sentou quatro vezes numa sala de controlo para lançar um satélite, mas vai pela primeira vez dirigir as operações iniciais da vida de um engenho espacial, no caso o telescópio Euclid.
O português de 45 anos é diretor de voo adjunto na missão da Agência Espacial Europeia (ESA), com lançamento previsto para sábado, que colocará o Euclid a 1,5 milhões de quilómetros da Terra para observar uma imensidão de galáxias e "fazer luz" sobre o lado escuro do Universo.
Formado em Engenharia Aeroespacial pelo Instituto Superior Técnico, em Lisboa, Tiago Loureiro trabalha há 19 anos no Centro Europeu de Operações Espaciais da ESA, na Alemanha, onde é feito o controlo dos engenhos em órbita - satélites, sondas, telescópios.
É neste centro que o português vai assumir pela primeira vez a responsabilidade de ser um dos diretores de voo, apesar de ser "a quarta vez" que se senta na sala de controlo para "lançar um novo satélite", como contou à Lusa.
Tiago Loureiro vai "coordenar o turno que monitoriza a contagem final antes do lançamento" do telescópio e que "volta à sala de controlo dez horas após o lançamento para continuar as operações iniciais da vida da missão".
Após o lançamento do telescópio, a participação do engenheiro aeroespacial na missão Euclid termina com o fim da etapa que visa garantir que o novo engenho no espaço "tem capacidade de gerar energia própria, de comunicar com a Terra e de manter sob controlo a sua órbita e altitude".
O telescópio será depois colocado "a caminho do seu destino", sendo feita a descontaminação dos instrumentos, que "consiste em aquecer as superfícies de forma controlada para libertar partículas depositadas nos elementos óticos, pois podem afetar a qualidade dos dados", explicou.
Todos os procedimentos foram treinados durante três meses.
Na ESA há mais três engenheiros portugueses a trabalhar na missão Euclid.
Um deles, José Mendes, integra igualmente a equipa de controlo de voo no Centro Europeu de Operações Espaciais da ESA, sendo responsável pela "definição de muitos dos procedimentos" e da cronologia das operações.
Em outro local, no Centro Europeu de Investigação e Tecnologia Espacial, nos Países Baixos, trabalham Luís Campos, engenheiro de "software" e operações, e Luís Venâncio, engenheiro ótico.
Sobre a missão Euclid, Tiago Loureiro diz que "trará enorme conhecimento sobre as galáxias", uma vez que o telescópio "vai observar milhares de milhões de galáxias e fornecer dados para construir um mapa da sua distribuição e velocidade relativa".
Observando as galáxias (parte da matéria visível) e os efeitos nelas gerados pela matéria escura e energia escura (ambas invisíveis) será possível, de acordo com Tiago Loureiro, saber mais sobre a natureza destes dois ingredientes misteriosos que compõem 95% do Universo.
"Para percebermos o nosso Universo temos que saber mais sobre estas duas entidades", frisou.
O engenheiro aeroespacial destacou que a missão Euclid permitiu, na Europa, criar "uma grande quantidade de empregos qualificados em tecnologias de ponta" e mobilizar cientistas de universidades e institutos, esperando que "as pessoas, sobretudo as mais jovens, se sintam inspiradas pelos desafios da exploração espacial".
"É uma parte fundamental para continuar a ter os jovens interessados em seguir uma formação nas áreas das ciências e engenharias, fundamentais para resolver os problemas na Terra", defendeu Tiago Loureiro, que está também envolvido no controlo da missão robótica euro-americana que trará para o planeta na década de 2030 as primeiras amostras de rocha de Marte.
O telescópio espacial europeu Euclid vai fazer durante seis anos de missão cerca de 50 mil observações de galáxias, um trabalho que teve no seu planeamento o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA).
O IA lidera a participação portuguesa na missão da Agência Espacial Europeia (ESA) que lançará no sábado, dos Estados Unidos, se tudo correr conforme o previsto, o telescópio que irá explorar o lado escuro e desconhecido do Universo.
Pela primeira vez, Portugal ocupa um lugar de destaque numa missão espacial da ESA, agência da qual é Estado-membro desde 2000.
A colaboração de Portugal no Euclid começou em 2012 quando o país assinou um acordo multilateral com a ESA e restantes representantes de um consórcio formado para desenvolver, construir e explorar o telescópio espacial.
Desde então mais de 40 investigadores e alunos de mestrado e doutoramento portugueses têm estado a trabalhar na missão.