01 jul, 2023 - 09:29 • Redação com Lusa e Reuters
A polícia francesa efetuou, entre a noite de sexta-feira e este sábado, um número recorde de 1.311 detenções em todo país, face aos tumultos urbanos que entraram no quarto dia consecutivo, indicou o Ministério do Interior de França.
Segundo o mesmo ministério, os protestos e os tumultos urbanos desencadeados terça-feira, após a morte de um jovem de 17 anos, abatido a tiro pela polícia depois de não ter respeitado uma "operação stop", tiveram menos intensidade do que nos dias e noites anteriores.
Uma força policial de cerca de 45 mil polícias ajudou a conter a violência nesta quarta noite de tumultos, mas o balanço é pesado. Segundo o Ministério do Interior, "79 polícias e gendarmes ficaram feridos", cerca de 1.350 veículos foram incendiados, 234 edifícios foram queimados ou danificados e cerca de 2.560 incêndios foram registados na via pública.
Marselha, a segunda maior cidade do sul de França, teve uma noite agitada, o que levou o Ministro do Interior francês, Gérard Darmanin, a enviar reforços para a cidade. A polícia já tinha registado 88 detenções por volta das 2h00 (1h00 em Lisboa) desde o início da noite, com grupos de jovens muitas vezes mascarados e "muito móveis".
Durante uma visita ao noroeste de Paris, Darmanin informou, a meio da noite, que a violência era "menos intensa", com 471 pessoas já detidas em todo o país e focos de tensão, nomeadamente em Marselha e Lyon, grandes cidades do sudeste.
Na manhã deste sábado, o número de pessoas detidas rondava o milhar, mais do que nas noites anteriores, quando a polícia deteve cerca de 900 pessoas.
Em Lyon e Grenoble (centro-leste da França), os confrontos estenderam-se pela noite dentro entre bandos de jovens, muitas vezes encapuzados, que andavam a correr ou de trotineta e confrontaram a polícia, que respondeu com granadas de gás lacrimogéneo.
A região parisiense não foi poupada, com três cidades próximas da capital a decidirem impor o recolher obrigatório, tal como outras cidades das províncias.
Em Nanterre, a cidade da região parisiense onde Nahel M. foi morto por um agente da polícia na terça-feira, durante um controlo de trânsito, já decorre o funeral do jovem de 17 anos, cuja morte desencadeou violência e vandalismo em todo o país.
As cerimónias fúnebres começaram depois das 12h00 locais (11h00 de Lisboa). "Sábado, 1 de julho, será um dia de luto para a família de Nahel", escreveram previamente os advogados da família, apelando aos meios de comunicação social para que não participem na cerimónia, "a fim de dar à família enlutada a privacidade e o respeito de que necessita".
De acordo com testemunhas no local, citadas pela agência Reuters, cerca de 30 homens jovens encontravam-se a "vigiar" a entrada do local da mesquita, pedindo às pessoas que não captassem imagens. Segundo os mesmos relatos, não há sinais de presença de polícia no local e a circulação rodoviária na zona envolvente encontra-se interrompida.
Ainda antes do funeral, Darmanin anunciou que este sábado sairão para as ruas mais "unidades mais especializadas", como o RAID (unidade de forças especiais) e o GIGN (Grupo de Intervenção da Gendarmeria Nacional), tropas de elite da polícia e da 'gendarmaria'.
Para as ruas foram também enviados veículos blindados ligeiros da 'gendarmeria' para tentar reduzir a tensão em relação à noite anterior, em que 492 edifícios foram alvo de ataques, dois mil veículos foram queimados e dezenas de lojas saqueadas.
Pelo menos 101 pessoas - 80 delas menores - foram detidas na sexta-feira em Bruxelas, depois de terem participado nos protestos pela morte de Nahel. Além das detenções em Bruxelas, outras 30 pessoas foram presas em Liège, no leste do país.
Segundo dados oficiais, a polícia de Bruxelas-Ixelles efetuou, na sexta-feira, 94 detenções administrativas, na sequência de manifestações em alguns bairros do centro da capital belga. Por outro lado, a polícia da zona norte de Bruxelas procedeu a outras sete detenções.
Segundo a agência noticiosa local, Belga, apesar da ausência de incidentes graves em Bruxelas, vários jovens foram detidos preventivamente por se encontrarem em locais onde foram convocados protestos na posse de material que, segundo a polícia, "poderia ser utilizado para cometer danos".
Na quinta-feira à noite, a polícia deteve 64 pessoas em Bruxelas, em protesto contra a morte de Nahel, um jovem de 17 anos de origem árabe, que foi mortalmente baleado por um agente da polícia na passada terça-feira, quando tentava fugir de um posto de controlo policial em Nanterre, arredores de Paris.
Em Liège, foram efetuadas cerca de 30 detenções administrativas na sequência de apelos nas redes sociais para a realização de manifestações no centro da cidade.
Segundo a agência belga, a polícia de Liège procedeu a controlos de identidade e a maior parte das pessoas detidas era procurada no âmbito de outros inquéritos. Tal como em Bruxelas, não se registaram incidentes graves.
[Notícia atualizada às 12h08 de 1 de julho de 2023]