04 jul, 2023 - 13:25 • João Pedro Quesado
A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) deu esta terça-feira luz verde à central nuclear de Fukushima, no Japão, para descarregar no Oceano Pacífico mais de um milhão de toneladas de água usada para arrefecer os reatores. O organismo da ONU afirma que a descarga vai ter um impacto "negligenciável" no ambiente.
Em 2011, um terramoto de magnitude 9.0 na escala de Richter provocou um tsunami que inundou três reatores da central de energia nuclear de Fukushima Daiichi, no que foi considerado o pior acidente nuclear desde Chernobyl. Mais de 150 mil pessoas foram evacuadas de uma zona de exclusão à volta da central, cuja desativação já começou, mas pode demorar décadas.
Agora, mais de 10 anos depois, o organismo autónomo da ONU responsável pela promoção da segurança nuclear aprovou a intenção da central nuclear, afirmando que cumpre os padrões internacionais e tem um impacto muito reduzido no ambiente, nomeadamente "água, peixes e sedimentos", declarou Rafael Grossi, diretor geral da agência, numa conferência de imprensa.
Para o dirigente, a análise de segurança, produzida ao longo de dois anos, é imparcial e científica. De acordo com o Japan Times, a AIEA vai continuar a monitorizar a situação se o plano de descarga da água tratada avançar. Já o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, afirmou que não permitiria a execução da descarga se surgirem sinais que teria um impacto prejudicial na saúde humana e no ambiente.
Após usada para arrefecer os reatores da central nuclear passa posteriormente por um sistema de filtração, que elimina a maioria dos componentes radioativos antes desta ser armazenada nos tanques. As formas radioativas de hidrogénio e carbono - o trítio e o carbono 14 - são elementos difíceis de separar da água, contudo a AIEA indica haver baixa concentração destes elementos na água armazenada pela central de Fukushima, e que centrais nucleares por todo o mundo fazem regularmente descargas de água com níveis de trítio acima do existente na água em Fukushima.
O problema, agora, é precisamente de armazenamento: os tanques da central apenas conseguem guardar 1,37 milhões de metros cúbicos de água tratada. Foi isso que fez o Japão, em 2021, anunciar a sua política para as descargas de água, agora aprovada pela Agência de Energia Atómica.
O plano de descarga tem os seus opositores, principalmente entre os países vizinhos: a China criticou o Japão pela intenção de realizar a descarga, com o embaixador do país no Japão a descrever a decisão como errada, enquanto a Coreia do Sul armazenou inicialmente excedente de sal marinho por receio de contaminação da cadeia alimentar, mas acabou por enviar uma delegação científica em maio para realizar a sua própria avaliação.
Também as comunidades piscatórias locais levantam objeções fortes, dizendo que vai provocar mais danos na reputação do peixe e marisco da região.