20 jul, 2023 - 10:40 • Tomás Anjinho Chagas , enviado a Madrid
A campanha entra agora no último fôlego e as sondagens apontam para uma viragem à direita do país vizinho. Em quase todas as sondagens- agora proibidas pela lei espanhola, que impede projeções nos cinco dias antes do dia de votações- o PP é o partido mais votado e suplanta o PSOE, liderado por Pedro Sánchez. Mas em nenhuma delas há uma maioira absoluta, o que coloca uma importância adicional à expressão conseguida pelo VOX e pela Plataforma SUMAR (onde se incluí o Podemos).
Tudo aponta para que, em qualquer caso, quem governe tenha de ser suportado por outro partido. Nesta altura, a palavra "voto útil" é das mais ouvidas nas rádios, televisões e jornais espanhóis. À semelhança do que aconteceu com as legislativas de 2022 em Portugal, os dois maiores partidos (PSOE e PP) procuram roubar votos aos mais pequenos com o objetivo de governar sozinhos.
Esta quinta-feira à noite realizou-se o último grande debate antes do Dia D. A RTVE, televisão pública espanhola, convidou os quatro maiores partidos para um último confronto, só que o PP recusou-se a marcar presença. Feijóo escudou-se em dois argumentos: é injusto para os partidos mais pequenos, e é um modelo de debate "incompleto".
Durante mais de uma hora e meia, os três candidatos: Pedro Sánchez (PSOE), Yolanda Diáz (SUMAR) e Santiago Abascal (VOX) fizeram braço de ferro num debate em que o jornalista praticamente não interferiu.
Não estando presente Alberto Feijóo (PP), o fosso foi cavado: PSOE e SUMAR de um lado da trincheira, VOX do outro. O presidente do Governo espanhol afirma que os espanhóis vão escolher se querem continuar naquilo que entende como o caminho do progresso, ou se preferem regredir.
"Temos de convocar todos a ir votar, e temos de decidir o seguinte: com o nosso voto, queremos que Espanha acorde no dia a seguir no ano de 2023, ou no ano de 1973", questionou Pedro Sánchez, referindo-se às diferenças já expostas entre PSOE e PP em matéria laboral e de leis referentes à violência de género.
A ausência do PP foi um dos principais temas e Yolanda Diaz, vice-presidente do Governo e candidata da plataforma SUMAR, afirmou que é preciso mudar a lei para que este tipo de recusas não se repitam.
"Há que fazer um acordo em que nunca mais- e estou a falar para o Sr. Feijó, aqui representado pelo Sr. Abascal- possa haver um debate na televisão pública em que um candidato que quer ser presidente do Governo não está presente. Acho que isto não pode voltar a acontecer, e sim, no SUMAR defendemos uma reforma na lei para que isto nunca mais aconteça novamente", atirou Yolanda Diaz.
Do lado do VOX, Santiago Abascal insistiu várias vezes que não representa o PP e até disse que o Partido Popular está mais interessado em fazer acordos com o PSOE do que com o VOX. A maior parte do tempo de antena foi utilizado para acusar Pedro Sánchez de proliferar "mentiras" e manipular dados em seu favor, e para apontar falhas na governação, nomeadamente nas limitações que o Governo coloca à indústria.
"Na china erguem-se 20 centrais a carvão por cada uma que é fechada em Espanha, mas a atmosfera não tem fronteiras. O que me leva a pensar é que vocês querem ter uma posição quase de supremacia: afastar de nós a contaminação e condenar as classes mais desfavorecidas. Sr. Sánches, vocês estão sempre com o fim do mundo- a vossa nova religião- mas os espanhóis não chegam ao final do mês", disparou Santiago Abascal, que tem aparecido em terceiro ou em quarto lugar nas sondagens.
Em resposta, o atual presidente do Governo espanhol comparou o líder do VOX a Donald Trump e a Jair Bolsonaro em matérias ambientais: "Negar a evidência científica e que existe uma emergência climática é como negar que a Terra é redonda. Isso é o que fazem fanáticos como Bolsonaro, como Trump e como vocês", devolveu Pedro Sánchez".