20 jul, 2023 - 11:00 • Tomás Anjinho Chagas , enviado a Madrid
Uma ida às urnas em pleno mês de julho num país que está a ser atravessado por uma onda de calor. As eleições espanholas têm este pano de fundo como cenário, o que coloca um ponto de interrogação no final da palavra “abstenção”. A alternativa escolhida por milhões foi o voto antecipado através do correio, mas a solução tornou-se o problema em muitos casos.
"Estávamos com receio que o voto não chegasse a tempo", descreve Beatriz Pastor Bayo à Renascença. É apenas uma de mais de 2,6 milhões de espanhóis que pediram para votar antes do dia 23 de julho. "Queria participar e ia de férias, por isso pedi para votar antecipadamente", lembra. Esta quinta-feira é o último dia para votar por correio em Espanha.
Os dados estatísticos são validados pelo empirismo de Beatriz, "bastante gente à minha volta fez o mesmo"- não tivesse sido batido o recorde de pessoas que optou por esta modalidade. Mas o bastante foi demais para a capacidade que havia de dar respostas.
"Fomos tantíssimos a pedir o voto por correio, que os correios não tinham pessoal suficiente", recorda Beatriz Bayo, que vinca que o processo para pedir o voto antecipado foi "relativamente fácil". O problema foi efetivar a resposta "é um dia em que metade do país está de férias", assinala esta cidadã espanhola que já devolveu o voto aos correios.
A corrida ao voto antecipado por correio provocou um entupimento deste serviço, que em muitos casos derrapou nos prazos para entregar os boletins aos eleitores. O caso deixou de ser administrativo e passou a ser político.
Alberto Feijóo, candidato do PP que aparece à frente nas sondagens, acusou a direção dos correios espanhóis de incompetência, e apesar de garantir que "não há nenhuma suspeita" em relação às falhas, afirma que se dependesse de si, a direção já teria sido demitida, em declarações à Rádio Onda Cero.
Mais longe foi o VOX, que continua a insistir que os atrasos podem "alterar gravemente" o resultado das eleições e pede agora à Junta Electoral Central (equivalente à nossa Comissão Nacional de Eleições) para que permita o voto presencial àqueles que pediram voto antecipado, para compensar as falhas.
Em resposta, Pedro Sanchez, atual presidente do executivo espanhol, reiterou a confiança na gestão da empresa e devolveu as críticas, acusando a oposição de aproveitamento político da situação. Sánchez volta-se para o adversário direto para pedir responsabilidade ao candidato do PP.