21 jul, 2023 - 07:00 • Tomás Anjinho Chagas , enviado a Madrid
A reta final das eleições legislativas espanholas vive-se com a sensação de que pode haver mudanças significativas no país nos próximos meses. Não é para menos: a esmagadora maioria das sondagens tem apontado para uma vitória do PP, que implicaria o fim do "sanchismo" e uma potencial entrada do Vox para o arco da governação.
O país - historicamente mais dividido do que Portugal - tem três cenários em cima da mesa: uma vitória do PSOE e do SUMAR com a continuação de Sánchez na Moncloa, viragem à direita com o PP e o VOX, ou uma vitória relativa que obriga a um entendimento entre os dois maiores partidos.
Mas a matemática parlamentar não descansa toda a gente: "Acho que pelo que se viu nas eleições municipais pode haver uma mudança, mas não acho que seja boa. As forças estão descompensadas e os extremos são necessários para haver uma solução política", desabafa à Renascença Alejandro Munir, um dos 37 milhões de eleitores que é chamado às urnas no próximo domingo.
"Se o PP ganhar, vai precisar de uma força política que não é muito democrática [Vox], e que tem muitas propostas que podem ser um retrocesso para muitos segmentos da população", antevê Alejandro Munir, que se baseia nas últimas sondagens. "Há gente que parece que anseia um regresso ao passado", atira, numa referência ao saudosismo ao franquismo praticado por algumas franjas do Vox.
Este é mais um ato eleitoral em poucos meses, o que deixa este espanhol "desapontado com a política", numa altura em que identifica um problema: "Há posições muito extremas e não se fazem propostas. Só se ataca o adversário, é muito feio", lamenta Alexandro Munir, que acredita que o cenário se tem vindo a agravar nos últimos anos.
O medo não é, logicamente transversal. Miriam Marsá, outra eleitora mostra-se entusiasmada com a possível viragem à direita que o próximo domingo pode trazer. "Acho que vai ganhar o PP, o Feijóo, e ainda bem", assume em declarações à Renascença.
O candidato do PP optou por não marcar presença no último debate que juntou os líderes do PSOE, Sumar e Vox, o que levantou uma série de críticas a Alberto Feijóo por não aceitar marcar presença na televisão pública. Mas Miriam lê a decisão como um golpe de inteligência política: "Fez bem, não o ia a beneficiar, só o ia a prejudicar", supõe esta cidadã espanhola, residente em Madrid.
"Só queriam encostá-lo às cordas e colá-lo ao Vox. E ele [Feijóo] decidiu livrar-se dessa comparação porque não quer sofrer com ela", defende Miriam Marsá.
Apesar de assumir que debater, mesmo que isso não traga benefícios eleitorais, esta eleitora considera que a liberdade também reside na possibilidade de recusar-se a debater. "Não saiu nada de novo desse debate", alivia.