28 jul, 2023 - 10:09 • Lusa
Um grupo de analistas do "think tank" europeu Network on China (ETNC) concluiu que os países europeus continuam divididos sobre uma estratégia comum para lidar com a China, apesar de endurecerem políticas para resistir às suas ambições económicas.
Num relatório agora divulgado, o ETNC lembra que, nos últimos meses, dirigentes dos países europeus retomaram visitas e reuniões com líderes chineses, mostrando querer manter a sua independência e autonomia face a Pequim, apesar dos alertas de Bruxelas para a necessidade de uma estratégia comum para a China. Esta deverá assentar numa tripla dimensão: como parceiro de cooperação, concorrente económico e rival sistémico.
O "think tank"- que reúne especialistas em política chinesa e que tem sede em Bruxelas - considera que a China, sob a liderança do Presidente Xi Jinping, se tornou "mais centralizada, autoritária e assertiva" nas suas ambições expansionistas, em clara contradição com os interesses e valores europeus.
No texto, intitulado "De uma Estratégia para a China, para Nenhuma Estratégia", os analistas concluem que, apesar dos esforços de Bruxelas, a Europa continua sem uma política comum para enfrentar os riscos que Pequim representa.
"A nível da União Europeia (UE), foi criado um conjunto de mecanismos para contrariar a crescente natureza geopolítica da influência chinesa, com distorções competitivas de mercados, indústrias e tecnologias", defendem os analistas neste relatório que reúne perspetivas de 24 países europeus.
Entre os mecanismos desenvolvidos por Bruxelas inclui-se a triagem nos investimentos, através de instrumentos como a Global Gateway Initiative, que procura monitorizar os riscos de interferência estrangeira, em particular da China, em setores estratégicos.
Contudo, estes mecanismos parecem não ser suficientes para garantir um posicionamento homogéneo dos países europeus, apesar dos esforços de alinhamento dentro da comunidade europeia.
"Dez anos depois de Xi Jinping ter assumido o comando da China, os países europeus tornaram-se mais alinhados na forma de lidar com este aspirante a grande potência mundial. No entanto, as abordagens em relação à China variam de acordo com a intensidade das relações, a extensão e a natureza da dependência económica, bem como com atitudes em relação ao Governo autoritário na China", pode ler-se no relatório divulgado este mês.
Ainda assim, apenas uma minoria de países divulgou oficialmente documentos estratégicos sobre o seu posicionamento face a Pequim, com apenas seis países a formalizar essa estratégia e com a maioria, incluindo Portugal, a não assumir oficialmente um posicionamento definido perante a China.
Contudo, a maior parte dos países europeus endureceram as suas posições face às ambições expansionistas chinesas, em áreas críticas, como sejam a ciência, a tecnologia e a inovação, nomeadamente depois de a Comissão Europeia ter estabelecido formalmente a sua posição face a Pequim, em 2021.
O ETNC defende que, depois do início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, os governos dos países europeus intensificaram a sua reflexão comum sobre a dependência face à China.
Por outro lado, dizem os analistas, Pequim também redefiniu os seus parâmetros de ação na Europa, para procurar aumentar a sua influência económica e geopolítica junto do bloco comunitário.
A Iniciativa Faixa e Rota, lançada por Xi Jinping em 2013, é "a mais conhecida iniciativa chinesa para a sua globalização e para criar novos mercados e oportunidades de investimento para as suas empresas, mas também para aumentar a influência política", diz o documento.
O relatório termina concluindo que o alinhamento dos países europeus face à China reflete o receio de que Pequim se torne ainda mais confrontacional, mesmo face a países com quem tem fortes parcerias económicas, sejam da UE ou os Estados Unidos.
"O facto de as políticas da China em muitos países europeus se terem alterado para se tornarem mais críticas, também reflete as alterações dos EUA perante Pequim, com Washington a tornar-se igualmente mais confrontacional desde 2017", dizem os analistas do "think tank" europeu.