29 jul, 2023 - 18:40 • Lusa
Um ano após a morte de cerca de 50 soldados ucranianos mantidos em cativeiro em Olenivka, a Rússia ainda não permitiu que a ONU ou qualquer investigador independente fosse ao local do massacre, apesar dos apelos de justiça de familiares dos prisioneiros.
"Foi um crime deliberado. Os nossos soldados foram mortos, cínica e impiedosamente", disse hoje a Associação de Famílias dos Defensores de Azovstal, num comunicado.
"Pedimos aos interessados que se unam para lutar por justiça e por uma punição adequada ao país terrorista", acrescenta a nota, no dia em que se realizam eventos em várias cidades em todo o mundo, incluindo Portugal, para recordar o massacre.
Em 28 de julho de 2022, cerca de 193 prisioneiros de guerra ucranianos foram transferidos para um prédio isolado do resto do complexo da colónia penal de Olenivka, na região leste de Donetsk, que abrigava cerca de 2.500 combatentes defensores de Mariupol.
A maioria dos soldados foi selecionada a partir de várias unidades do batalhão Azov, que liderou a defesa de Mariupol durante o cerco russo de três meses.
Na primeira noite no novo local de reclusão, várias explosões destruíram parte da estrutura e provocaram 50 mortos, ferindo gravemente cerca de outros 70 presos.
"Ainda não sabemos o número final de mortes, porque a investigação e os testes de ADN dos corpos ainda estão em curso", disse Mariia Alieksieevych, representante da ONG Comunidade de Famílias de Olenivka.
Várias organizações acreditam que Moscovo - que recusou a visita a Olenivka por um comité das Nações Unidas, em agosto do ano passado - está a esconder a verdade sobre o que se passou há exatamente um ano em Olenivka.
Apesar do facto de investigadores independentes não terem acesso ao local, procuradores ucranianos e ONGs continuam os esforços para esclarecer a verdade.
Taras Semkiv, do Ministério Público da Ucrânia, disse na sexta-feira que "ainda não são claras as razões da Rússia para não garantir a segurança dos prisioneiros de guerra ucranianos", admitindo que se possa tratar de um crime de guerra.
Alguns sobreviventes deste episódio regressaram à Ucrânia graças a trocas de prisioneiros e são hoje peças-chave na investigação realizada por organizações internacionais.
De acordo com o seu testemunho, a explosão matou imediatamente vários prisioneiros que dormiam nas suas camas, antes de provocar um incêndio que terá ferido ainda mais pessoas.
Cerca de 700 membros do batalhão Azov e 1.200 membros de outras unidades envolvidas na defesa de Mariupol permanecem em cativeiro russo, em isolamento quase total das suas famílias, que nada sabem sobre o seu paradeiro.
Hoje, em várias cidades da Ucrânia e em múltiplos outros países, incluindo Portugal, várias associações realizam manifestações e encontros para recordar o massacre dos prisioneiros de Olenivka, pedindo que as autoridades de Moscovo sejam levadas perante a justiça internacional.
Em Lisboa, realiza-se, hoje ao fim da tarde, um encontro promovido pela Associação dos Ucranianos em Portugal, para recordar as vítimas do massacre.
A vice-presidente da associação, Natália Vargas, espera a participação de muita gente no evento, adiantando que muitos jovens ucranianos, em Portugal para participarem na Jornada Mundial da Juventude, vão estar presentes.
Os organizadores esperam também a presença da Embaixada da Ucrânia em Portugal.
Ao longo da ação, irá ser organizado um cordão humano, respeitado um minuto de silêncio e produzidos alguns discursos.
O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, defendeu na terça-feira a necessidade de "garantir justiça" para os prisioneiros ucranianos mortos na prisão de Olenivka.
"Os prisioneiros de guerra que ficaram feridos ou morreram em Olenivka e os seus familiares merecem que se conheça a verdade e que os responsáveis das violações do direito internacional prestem contas", assinalou o advogado austríaco, num comunicado emitido pelo Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, estrutura que dirige desde outubro de 2022.
O comunicado emitido pelo alto-comissário assinala que o incidente marcado pela morte dos prisioneiros "não foi provocado por um foguete HIMARS", a versão divulgada por diversos responsáveis russófonos de Donetsk, que acusaram o Governo ucraniano pelo ataque.
Türk comprometeu-se a acompanhar este caso "em conformidade com os seus conhecimentos especializados e o seu mandato".