01 ago, 2023 - 15:26 • Lusa
A Rússia está a contornar as sanções impostas pelo Ocidente devido à guerra na Ucrânia e a importar produtos proibidos, tanto para uso civil como militar, segundo uma investigação do portal independente russo Viorstka, citada esta terça-feira pela imprensa internacional.
"Só no último semestre, a Rússia importou 'chips' de empresas ocidentais sujeitos a sanções num valor superior a 502 milhões de dólares (cerca de 458 milhões de euros), que são utilizados para a produção de mísseis e outros tipos de armas", referiu o portal russo, reconhecido por investigações jornalísticas, citado pela agência de notícias EFE.
O portal Viorstka chegou a esta conclusão depois de ter acedido a dados estatísticos alfandegários russos confidenciais e de ter entrevistado pessoas envolvidas na logística das mercadorias e empresários russos que "explicaram como funcionam os esquemas de fornecimento ilegal".
O 'media' apontou que "foram importados utensílios para a indústria de armamento, no valor de 171 milhões de dólares (cerca de 156 milhões de euros), peças sobresselentes para a aviação civil e 'smartphones' iPhones por 389 milhões de dólares (cerca de 355 milhões de euros)".
"A nossa investigação revelou que a Rússia pode importar praticamente tudo de qualquer parte do mundo, desde um 'chip' para uso civil e militar até um turbo-hélice para um Airbus. Os esquemas através de países terceiros envolvem empresas ocidentais e as autoridades russas conseguem escapar às sanções europeias e norte-americanas", disse o portal Viorstka."A nossa investigação revelou que a Rússia pode importar praticamente tudo de qualquer parte do mundo"
O 'media' russo dá como exemplo os mísseis de cruzeiro russos X-101, fabricados pela corporação KTRV e utilizados na guerra na Ucrânia, que possuem processadores Intel e circuitos integrados Xilinx e Texas Instrument, além de um transcetor Analog Devices Inc.
"No último semestre, pela alfândega russa passaram componentes da norte-americana Analog Devices Inc no valor de mais de 98 milhões de dólares (cerca de 90 milhões de euros), da Xilinx na ordem dos 75 milhões de dólares (cerca de 68,3 milhões de euros), e da Texas Instrument a rondar os 38 milhões de dólares (cerca de 34,6 milhões de euros)", revelou a investigação jornalística.
A Rússia importou semicondutores da empresa alemã Infineo, a maior do género neste país, por mais de 28 milhões de dólares (25 milhões de euros), de acordo com a mesma fonte.
"Além disso, chegaram à Rússia mercadorias da Marvell [produtora de circuitos integrados] no valor de 11 milhões de dólares (10 milhões de euros), da Cypress Semiconductor, no valor superior de 3,8 milhões de dólares (3,4 milhões de euros), e da Amtel, no valor que ultrapassou os 2,7 milhões de dólares (2,4 milhões de euros)", acrescentou.
O portal destacou ainda que os processadores norte-americanos da Intel - no valor de 169 milhões de dólares (164 milhões de euros) - e da AMD - 35 milhões de dólares (31 milhões de euros) - também chegaram ao território russo.
"Praticamente todos os componentes eletrónicos ocidentais chegam à Rússia através da China e de Hong Kong", avançou o portal, acrescentando que três empresas de Hong Kong forneceram aos russos mais de 70 milhões de componentes durante os primeiros seis meses de 2023.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Os aliados ocidentais da Ucrânia têm fornecido armas a Kiev e aprovado sucessivos pacotes de sanções contra interesses russos para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra.