23 ago, 2023 - 13:20 • João Pedro Quesado com Reuters
A nave espacial Chandrayaan-3, da Organização Indiana de Investigação Espacial (ISRO), pousou na Lua esta quarta-feira. A alunagem aconteceu à hora prevista, pelas 13h34 (hora de Portugal continental). A Índia tornou-se, assim, no primeiro país a aterrar no pólo Sul do satélite natural da Terra.
A alunagem foi confirmada em direto, na transmissão em direto da ISRO, e numa publicação na rede social X (antigo Twitter), em que a nave comunica que chegou ao destino.
Esta não é a primeira tentativa da Índia chegar à Lua. Em 2019, a missão Chandrayaan-2 lançou com sucesso uma nave para a órbita da Lua, mas o módulo de alunagem e a sonda foram destruídos quando embateram com o solo lunar, não muito longe de onde a missão Chandrayaan-3, lançada a 14 de julho, aterrou esta quarta-feira.
Com esta alunagem bem-sucedida, a Índia é o quarto país a aterrar com sucesso na Lua, sucedendo à antiga União Soviética, aos Estados Unidos da América e à China.
Poucos dias depois da primeira missão lunar da Rússia em quase cinco décadas - a Luna-25 - se ter despenhado, a Índia fez chegar uma nave sua ao pólo Sul do satélite natural da Terra, onde se crê que existe gelo nas crateras que permanecem na sombra – tornando a descoberta fulcral para uma potencial colonização da Lua.
Este gelo poderá vir a fornecer oxigénio, combustível - através da produção de hidrogénio - e água a futuras missões lunares. Os cientistas também pensam que o gelo pode vir a dar provas de vulcões lunares, dos minerais transportados por cometas e asteroides para a Terra, e a origem dos oceanos.
Com dois metros de altura e um peso de mais de 1.700 quilos, a nave está projetada para largar uma pequena sonda de 26 quilos.
Depois de aterrar com sucesso, é esperado que a Chandrayaan-3 permaneça em funcionamento durante duas semanas. O objetivo é levar a cabo uma série de experiências, incluindo uma análise de espectómetro da composição mineral da superfície lunar – que vai permitir confirmar, ou não, a existência de gelo.
Em expectativa, o administrador da NASA, Bill Nelson, declarou à Reuters que aguardava pelo que seria aprendido com a missão indiana. A existência de água na Lua já é especulada desde a década de 60 do século XX, ainda antes da primeira aterragem das missões Apollo - cujas amostras pareceram, então, secas.
Em 2008, investigadores americanos voltaram a analisar as amostras lunares com nova tecnologia, encontrando hidrogénio dentro de pequenas peças de vidro volcânico. Em 2009, um instrumento da NASA a bordo da sonda indiana Chandrayaan-1 detetou água na superfície lunar.
Do lado político, o sucesso da missão também representa uma boa notícia para Narendra Modi, o primeiro-ministro indiano, que acompanhou em direto a alunagem. Narendra Modi está em Joanesburgo, na África do Sul, para a cimeira da BRICS.
Com eleições nacionais em 2024, o governo indiano quer afirmar o país como uma potência espacial emergente e impulsionar o investimento em lançamentos privados e no negócio dos satélites espaciais.
O objetivo da Índia é que as empresas privadas da indústria espacial nacional aumentem a sua quota do mercado nacional de lançamentos espaciais em cinco vezes durante a próxima década.
No lançamento da Chandrayaan-3, Modi declarou que a agência espacial estava a escrever "um novo capítulo na odisseia espacial da Índia", assim como a elevar "os sonhos e ambições de todos os indianos".
Sim. O Tratado do Espaço Exterior, promovido pelas Nações Unidas em 1967, proíbe todas as nações de reivindicar a propriedade da Lua, mas não existe nenhuma provisão que proíba as operações comerciais.
Com os Acordos de Artémis, os Estados Unidos da América procuraram estabelecer, em 2020, um conjunto de princípios para governar a exploração da Lua e dos seus recursos. 28 países - entre os quais não está a China, nem a Rússia - assinaram o documento até agora.
Entre os princípios desses Acordos estão a partilha de informação científica, o uso das atividades de exploração para fins exclusivamente pacíficos, a assistência a outros sempre que necessário, a preservação de locais de alunagem históricos e a limitação da criação de novos detritos espaciais.