25 ago, 2023 - 15:13 • Miguel Marques Ribeiro
O Governo espanhol vai interpor uma ação legal para destituir o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), noticia esta sexta-feira o jornal El Mundo.
A decisão surge depois da inesperada recusa de Luis Rubiales em demitir-se, anunciada durante a assembleia geral do organismo que supervisiona o desporto rei no país vizinho.
O mecanismo para retirar Rubiales de funções vai basear-se numa queixa do Conselho Superior de Desporto (CSD) perante o Tribunal Administrativo do Desporto (TAD) por uma “falta muito grave”, diz fonte do governo espanhol ao jornal El Mundo.
O executivo afirma ter recebido com “estupefação” a recusa do dirigente em apresentar a demissão, classificando a decisão de “absolutamente incompatível com a representação que detém no desporto espanhol e com os valores de uma sociedade avançada como a espanhola”.
Nos últimos dias, multiplicaram-se os pedidos para que Rubiales se demitisse, por causa do beijo dado à jogadora Jenni Hermoso durante a cerimónia de entrega de medalhas do Campeonato do Mundo de Futebol Feminino, ganho pela seleção espanhola.
Presidente da Federação Espanhola de Futebol garan(...)
Outros comportamentos considerados impróprios foram sendo revelados pela imprensa, como o agarrar dos genitais ou o carregar de uma jogadora ao ombro, durante as comemorações pela vitória inédita de Espanha.
Esta manhã, contudo, contra todas as previsões Rubiales recusou demitir-se no discurso que proferiu perante os representantes das associações de futebol do país vizinho, alegando que o beijo dado à avançada de 33 anos foi consentido.
A denúncia agora decidida pelas autoridades governativas será explicada publicamente em breve por Víctor Francos, presidente do CSD, acrescenta o El Mundo, mas deverá ter por base um conjunto de processos a interpor na próxima semana no TAD.
As palavras proferidas por Rubiales na manhã desta sexta-feira provocaram um terramoto de reações nas redes sociais.
A vice-presidente do governo espanhol, Yolanda Díaz, escreveu no Twitter que “aquilo a que assistimos hoje durante a Assembleia da Federação é inaceitável”, acrescentando que “Rubiales não pode continuar no cargo”.
Victoria Rosell, que representa o governo na área da violência de gênero, também reagiu. À Cadena Ser disse sentir “uma profunda vergonha” pelas palavras proferidas por Rubiales e pelos actos praticados por este durante o Mundial da FIFA.
Outro membro do governo espanhol a manifestar-se foi a ministra da Igualdade, Irene Montero, que reproduziu a divisa da luta anti-machista em Espanha: “Só o sim é sim”.
Alexia Putellas, Borja Iglesias, David de Gea e Ik(...)
Segundo a Cadena Ser, a Fiscalía (Ministério Público espanhol) não abriu uma investigação por agressão sexual contra Rubiales por não ter recebido uma denúncia da visada, Jenni Hermoso.
Logo a seguir aos acontecimentos ocorridos na final do Mundial, que foi disputada no domingo na Austrália e Nova Zelândia, ainda no balneário, a jogadora fez um direto nas redes sociais em que falou sobre o beijo do presidente da RFEF. Na altura, a jogadora afirmou: “não gostei. Mas que posso fazer?”.
Na terça-feira, Rubiales publicou um vídeo no canal de Youtube da RFEF em que pede desculpas pelo sucedido, admitindo que o maior êxito da história do futebol feminino do país vizinho ficou ensombrado pelas suas ações.
Segundo o site Relevo, a intenção de Rubiales era fazer a declaração lado-a-lado com Jenni, o que esta recusou. O departamento de comunicação da Federação terá então produzido uma declaração falsa da jogadora do Pachuca, por escrito, onde se lia: “Foi um gesto mútuo totalmente espontâneo dada a alegria imensa de ganhar um Mundial. O presidente e eu temos uma grande relação”.
Também sobre este assunto, a jogadora recusou-se a emitir qualquer comentário.
No entanto, na quarta-feira, o sindicato e a agência que representam a jogadora asseguram estar “a trabalhar para que atos como os que vimos nunca fiquem impunes, sejam sancionados e sejam adotadas as medidas pertinentes para proteger os jogadores de futebol de ações que consideramos inaceitáveis”.