07 set, 2023 - 13:45 • João Pedro Quesado
Os Estados Unidos da América (EUA) vão incluir munições de urânio empobrecido num novo pacote de apoio militar à Ucrânia. O mais recente apoio foi anunciado esta quarta-feira pelo Pentágono, no segundo e último dia da visita do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, ao país em guerra.
As controversas munições de urânio empobrecido têm um valor de cerca de 175 milhões de dólares, e integram um pacote de apoio com um custo superior a mil milhões de dólares (mais de 930 milhões de euros).
Esta é a primeira vez que os EUA enviam este tipo de munição, capaz de perfurar a blindagem de veículos de combate, para a Ucrânia. O Reino Unido já tinha anunciado, em março, que ia enviar munições de urânio empobrecido à Ucrânia para equipar os tanques Challenger 2.
Os mísseis norte-americanos vão equipar os tanques M1 Abrams, que os Estados Unidos da América também vão fornecer ao país do Leste europeu nos próximos meses.
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A Rússia condenou esta decisão, denunciando-a como "um indicador de desumanidade". Para o Kremlin, os Estados Unidos estão a "iludir-se a si mesmos ao recusar aceitar a falha da chamada contra-ofensiva do exército ucraniano", e o país terá de responder pelas "consequências muito tristes" da decisão.
Neste novo pacote de assistência militar, os Estados Unidos vão enviar à Ucrânia sistemas anti-blindagem, sistemas táticos de navegação aérea e munições adicionais do sistema de mísseis Himars.
O urânio empobrecido é um elemento que decorre naturalmente da criação de urânio enriquecido, usado em centrais e armas nucleares.
Esta forma de urânio é colocada nas pontas dos mísseis anti-tanque, de balas e de morteiros para aumentar a capacidade de penetrar os alvos. As pontas feitas de urânio empobrecido tornam-se ainda mais afiadas no momento do impacto, aumentando a penetração dos alvos, e entram em ignição.
Estes mísseis de urânio empobrecido foram desenvolvidos pelos EUA durante a Guerra Fria, na década de 1970, e foram usados pela primeira vez na Guerra do Golfo de 1991, no Kosovo em 1999 e na Guerra do Iraque, em 2003.
Estas munições não são consideradas armas nucleares, nem existe nenhum tratado a proibir o seu uso.
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Apesar de muita da radiotividade ter sido retirada a este material, o urânio empobrecido continua a emitir baixos níveis de radiação - o que leva a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) a recomendar cautela no uso e a alertar para o perigo de exposição.
À BBC, Marina Miron, investigadora de estudos de guerra no Kings College, de Londres, explicou que "o medo é que, se as munições de urânio empobrecido caírem no chão, podem contaminar o sol", o que explica "porque é que os Estados Unidos e os aliados da NATO provocaram controvérsia quando as utilizaram no Kosovo".
Um estudo publicado em 2019 sugeria uma ligação entre o uso de armas de urânio empobrecido e nascimentos com deficiências numa cidade no Iraque. Em 2022, um relatório do Programa Ambiental das Nações Unidas declarou a preocupação com o uso destas munições na Ucrânia, avisando que podem provocar "irritação na pele, falência renal e aumentar os riscos de cancro".
"A toxicidade química do urânio empobrecido é considerada um problema mais significante que os possíveis impactos da sua radioatividade", dizia o mesmo relatório.