08 set, 2023 - 09:37 • Lusa
O bloqueio da Rússia aos portos da Ucrânia, desde que se retirou, em julho, de um acordo mediado pela ONU e pela Turquia, "é escandaloso e deve acabar", disse esta sexta-feira o presidente do Conselho Europeu.
"É francamente escandaloso que a Rússia, depois de pôr fim à iniciativa cerealífera do Mar Negro, esteja a bloquear e a atacar os portos marítimos ucranianos. Isto tem de parar", disse Charles Michel.
A Rússia retirou-se do acordo que permitia a exportação em segurança de cereais da Ucrânia, um dos maiores produtores do mundo, depois de dizer que o acordo não conseguiu atingir o objetivo de aliviar a fome em África.
Desde então, o Kremlin tem pedido à Turquia que ajude a Rússia a exportar os seus cereais para países africanos, nomeadamente no início da semana, em conversações entre o líder russo, Vladimir Putin, e o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, no sul da Rússia.
"A oferta de um milhão de toneladas de cereais a África feita pelo Kremlin é absolutamente cínica", acrescentou Charles Michel aos jornalistas em Nova Deli, na véspera da cimeira do G20.
A Ucrânia e a Rússia são grandes exportadores de cereais. O acordo implementado no ano passado ajudou a baixar os preços globais dos alimentos e proporcionou à Ucrânia uma importante fonte de receitas para o seu esforço de guerra.
"Os navios que transportam cereais devem poder aceder ao Mar Negro com total segurança", sublinhou Michel, especificando que a iniciativa das Nações Unidas permitiu inicialmente entregar 32 milhões de toneladas, "em particular aos países em desenvolvimento".
Putin alegou que, "das 32,8 milhões de toneladas exportadas da Ucrânia, mais de 70% acabaram nos países ricos, principalmente na União Europeia", com os países mais carenciados a receberem apenas 3% dos cereais que saíram pelos portos ucranianos, ou seja, "menos de um milhão de toneladas".
Desde que se retirou do acordo de cereais, a Rússia intensificou os seus ataques contra os portos fluviais ucranianos do Danúbio, na região de Odessa, a que a Ucrânia tem recorrido para exportar cereais.
"Mais de 250 milhões de pessoas enfrentam uma grave insegurança alimentar em todo o mundo e, ao atacar deliberadamente os portos marítimos ucranianos, o Kremlin está a privá-las dos alimentos de que necessitam desesperadamente", argumentou Michel.
Putin não irá participar na cimeira do bloco G20 na Índia e nem sequer planeia enviar um discurso em vídeo, devido às tensas relações entre Moscovo e muitos membros do bloco, na sequência da invasão russa da Ucrânia.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, irá substituir Putin na cimeira deste fim de semana.