10 set, 2023 - 08:32 • João Pedro Quesado
Com o amanhecer de domingo, Marrocos entra no segundo dia após o sismo de magnitude 6,8 que abalou o país. Os habitantes e as operações de socorro avaliam os danos e procuram sobreviventes entre escombros.
Pelo menos 2.012 pessoas morreram e 2.059 ficaram feridas, segundo o último balanço, das 22h00 de sábado. 1.404 feridos são graves. A expectativa é que os números voltem a subir, o que é normal nestes cenários.
Isso mesmo foi apontado pelo sismólogo João Duarte Ferreira, que disse à Agência Lusa que o número de mortos provocados pelo sismo ainda vai subir "significativamente". O terramoto aconteceu numa zona de convergência entre as placas tectónicas africana e euro-asiática, que, noutras áreas, "são bastante estáveis", mas que, nesta localização, apresentam "deformação distribuída ao longo de centenas de quilómetros", representada na cordilheira do Atlas.
O sentimento é ecoado por Nuno Veloso, português que vive em Rabat. "Trabalho com algumas destas povoações e, nestes casos, é complicado... É impossível uma ambulância chegar lá acima e os meios aéreos também não podem fazer tudo. É complexo", disse.
102 cidadãos nacionais chegaram a Portugal esta noite, transportados por um avião da Força Aérea. Os dois portugueses feridos, incluindo uma criança, também voltaram a solo nacional, e foram transportados para o Hospital de Santa Maria, de acordo com a CNN Portugal.
Temendo réplicas, muitos habitantes de Marraquexe dormiram na rua, ao relento, na noite de sábado para domingo. O rei Mohammed VI declarou três dias de luto nacional.
As operações de busca e salvamento lutam para encontrar pessoas - por vezes famílias inteiras - debaixo dos destroços dos edifícios que desabaram, principalmente nas áreas rurais.
No entanto, muitas estradas na região próxima do epicentro, estão bloqueadas ou danificadas pelos destroços provocados pelo sismo, o que dificulta a passagem de pessoas e equipamentos.
As áreas rurais do sul do país são as mais atingidas - o epicentro foi a 71 km a sudoeste de Marraquexe, na região do Alto Atlas - uma subcordilheira que faz parte do Atlas marroquino -, repleta de pequenas aldeias.
Vários países ofereceram ajuda a Marrocos, incluindo a Argélia - que tinha cortado as relações diplomáticas com o vizinho mas, depois de dois anos, abriu o seu espaço aéreo à passagem de ajuda humanitária.
José Luís Carneiro, ministro da Administração Interna, declarou a disponibilidade portuguesa para "projetar" para Marrocos "uma força equivalente" à enviada para a Turquia, em fevereiro deste ano. Em declarações à Renascença, o ministro diz que está a aguardar a resposta de Marrocos.
A Madeira disponibilizou-se para auxiliar as equipas de socorro de Marrocos, colocando à disposição do país equipamentos e recursos humanos. A Câmara do Porto também o fez.
A União Europeia também ofereceu ajuda ao país do Norte de África, expressando solidariedade com o povo marroquino.
Um grupo de autarcas algarvios estava em Marraquexe na altura do sismo, devido a uma conferência internacional sobre geoparques. O presidente da Câmara de Loulé, Vítor Aleixo, contou à Renascença que passou a noite ao relento e o terramoto foi "um grande susto".
Mónica Sintra também estava em Marraquexe, e saiu "logo para a rua" quando sentiu o sismo. À Renascença, a cantora explicou que não vai sair do hotel por segurança.
Hassan Nadder, antigo jogador do Benfica e do Farense, estava em Casablanca, e descreveu cenas "que só se vê nos filmes".