12 set, 2023 - 14:39 • Redação
O balanço de mortos nas violentas cheias que atingiram o leste da Líbia nos últimos dias voltou a subir, com o Ministério do Interior a indicar que o número de vítimas ultrapassa as 5.200, a que se somam cerca de 4 mil pessoas desaparecidas.
A Líbia, país politicamente dividido em dois Governos desde o golpe de Estado que depôs Muammar Kadhafi em 2011, pediu entretanto ajuda humanitária internacional para lidar com o impacto da tempestade Daniel.
A cidade de Derna, que está sob o controlo do Governo rebelde, é uma das mais afetadas pelas inundações, o que está a dificultar a chegada de ajuda ao país. Ali, já foram recuperados e enterrados 700 corpos, segundo avança a Associated Press esta terça-feira.
De acordo com as últimas informações, cerca de um quarto da cidade está totalmente destruída e permanece totalmente isolada, sem eletricidade nem comunicações.
"A situação é catastrófica. Os corpos estão estendidos no chão em muitas partes [da cidade]. Os hospitais estão cheios de corpos. E há zonas a que ainda não chegámos."
A Al-Jazeera indica que pelo menos uma ponte à beira-mar foi arrastada e que as estradas para Derna estão praticamente intransitáveis. O desafio é ainda maior num país como a Líbia, que vive dividida e entregue a lutas entre fações opositoras desde a deposição de Kadhafi.
A administração no oeste do país, liderada pelo primeiro-ministro Abdul Hamid Dbeibah, sediada em Trípoli, é a única reconhecida pela comunidade internacional.
No leste do país, atingido pelas cheias, existe uma outra administração liderada pela Câmara dos Representantes (HoR), sediada em Benghazi. O conflito entre ambos na última década já tinha deixado as infraestruturas do país debilitadas.
As autoridades do Leste pediram ajuda, mas o banco central do país só reconhece o Governo em Trípoli, que, apesar das querelas, anunciou o envio de um avião de ajuda humanitária com 14 toneladas de mantimentos, medicamentos, equipamento e pessoal médico para Benghazi.
Os desafios, incluindo o montante a atribuir a cada Governo, a forma como o dinheiro será gasto e quem será responsável por supervisionar a despesa, podem complicar a cooperação para recuperar das inundações.
Portugal já manifestou apoio e solidariedade ao país devastado pelas cheias, enviando condolências aos familiares e amigos das vítimas.
Em nota publicada na página da presidência, Marcelo Rebelo de Sousa transmite sentidas condolências e solidariedade ao povo líbio, "expressando a solidariedade do povo português num momento tão difícil para as populações das regiões mais afetadas por esta catástrofe natural".
As fortes chuvas provocadas pela tempestade Daniel levaram a grandes inundações em várias zonas do leste da Líbia. A tempestade atingiu as cidades de Benghazi, Susa, Bayda e al-Marj, entre outras, no domingo e na segunda-feira, mas a cidade portuária de Derna foi a mais afetada.
Na segunda-feira, duas barragens a montante da cidade rebentaram, uma a seguir à outra, libertando grandes volumes de água que desceram o vale e destruíram estradas e pontes. A cidade está cercada por montanhas, o que potenciou as rápidas inundações, com níveis de água que chegaram a atingir os três metros de altura.
As imagens e fotografias já divulgadas mostram uma destruição em larga escala, com bairros inteiros destruídos, especialmente os situados ao longo do rio Derna, que atravessa a cidade. Edifícios de habitação e carros também foram arrastados pela água lamacenta.
De acordo com a administração do Leste, o número de mortos só em Derna já ascenderá às 3 mil, havendo cerca de 10 mil pessoas desaparecidas.
A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho também indicam que o número de pessoas desaparecidas se aproxima das 10 mil. Segundo o último balanço do Crescente Vermelho Líbio, já foram confirmadas 2.084 mortes.
Derna continua em grande parte isolada, uma vez que o acesso rodoviário ainda não foi reestabelecido e a internet e a eletricidade estão desligadas na cidade, prevendo-se que o número de mortos, desaparecidos e deslocados aumente nos próximos dias.
O difícil trabalho de assistência de emergência às áreas afetadas promete continuar durante semanas. O ministro da Saúde da Líbia, Othman Abduljaleel, diz que muitos mais corpos estão ainda sob os escombros nos bairros de Derna ou foram arrastados para o mar.
"É necessária uma intervenção internacional", afirmou, citado pelos meios de comunicação social estatais.
Vários governos estrangeiros enviaram mensagens de apoio e solidariedade à Líbia, como a Argélia, o Egipto, o Irão, a Tunísia, a Turquia e os Emirados Árabes Unidos, bloco de países que diz estar pronto a enviar assistência humanitária e pessoal para ajudar nas operações de resgate e salvamento.
Até agora, as equipas de emergência - funcionários públicos, militares, voluntários e residentes locais - têm estado a escavar os escombros em busca de sobreviventes e para recuperar os mortos.
[atualizado a 14/9 às 17h43]