28 ago, 2023 - 20:06 • Redação
Uma mulher que se queixava de perdas de memória e depressão tinha, afinal, um enorme parasita no cérebro.
O caso aconteceu em Camberra, na Austrália, com o médico infecciologista, Sanjaya Senanayake, a ser contactado por um colega neurocirurgião, que em tom incrédulo partilhou: "Não vais acreditar no que acabei de encontrar na cabeça de uma paciente. Está vivo e mexe-se."
O neurocirurgião responsável pelo caso, Hari Priya Bandi, acabara de retirar uma espécie de parasita, semelhante a uma minhoca ou lombriga, com cerca de oito centímetros do cérebro da mulher e entrou de imediato em contacto com Senanayake e outros departamentos do hospital de Camberra para saber que medidas tomar.
Segundo o jornal The Guardian, a paciente em questão é uma mulher de 64 anos, natural de Nova Gales do Sul, e tinha sido internada num hospital local. No final de janeiro de 2021 dera entrada com queixas de febre, dores abdominais e diarreia incessantes, tosse seca e suores noturnos.
Já em 2022, com novos sintomas de depressão e perda de memória, a australiana seria sujeita a uma ressonância magnética que revelava algumas anomalias, tendo sido sujeita a uma cirurgia.
“Certamente o cirurgião não esperava encontrar um verme em movimento quando iniciou a cirurgia”, partilhou esta semana Senanayake. “É normal os neurocirurgiões lidarem com infeções no cérebro, isso acontece regularmente. Mas esta foi uma descoberta única na carreira. Ninguém esperava encontrar aquilo.”
“Camberra é um lugar pequeno, então pegámos no verme ainda vivo e mandámos para o laboratório de um especialista da CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation) que tem uma vasta experiência com parasitas”, avançou Senanayake.
“Ele olhou para a minhoca e reagiu imediatamente: Oh meu deus, é uma ‘Ophidascaris robertsi’”, uma lombriga geralmente encontrada em cobras piton. Este é o primeiro caso de um parasita desta natureza encontrado em humanos.
Os médicos e cientistas envolvidos no caso levantam a hipótese de que uma píton possa ter espalhado o parasita através das fezes na relva, por haver uma espécie destas cobras a viver na zona onde a mulher habita.
“A paciente foi incrivelmente corajosa”, disse Senanayake. “Ninguém quer ser o primeiro paciente do mundo em quem se descobre uma lombriga que costuma ser encontrada em pítons. Ela tem sido maravilhosa.”
A paciente está a recuperar bem e tem sido monitorizada regularmente. Os investigadores estão ainda a aferir se alguma condição médica pré-existente poderá ter comprometido o sistema imunitário e levado à propagação das larvas. O caso foi documentado na edição de setembro da revista Emerging Infectious Diseases.
De acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, três quartos das novas doenças infeciosas ou emergentes nas pessoas provêm de animais.
“Existiram cerca de 30 novas infeções no mundo nos últimos 30 anos”, explica Senanayake. “Das infeções emergentes a nível mundial, cerca de 75% são zoonóticas, o que significa que houve transmissão do mundo animal para o mundo humano. Isto inclui os coronavírus.”
[atualizado a 15/9 às 11h59]