24 set, 2023 - 15:30 • João Pedro Quesado
Os primeiros grupos de pessoas já começaram a deixar a província de Nagorno-Karabakh, deslocando-se em direção à Arménia após o início de uma ofensiva militar pelo Azerbaijão, na semana passada. O primeiro-ministro da Arménia avisa que ainda há perigo de uma "limpeza étnica".
Este domingo, as organizações humanitárias e o governo arménio anunciaram que dezenas de pessoas tinham sido evacuadas, depois do Azerbaijão aceder a abrir o corredor de Lachin, a única ligação do enclave ao país vizinho. Segundo o Ministério da Saúde da Arménia, a Cruz Vermelha escoltou 23 ambulâncias que transportavam "cidadãos de Nagorno-Karabakh gravemente e muito gravemente feridos".
Entretanto, outros cidadãos declararam, de acordo com o Politico, que imploraram ao soldados russos para os ajudar a fazer a travessia, depois dos líderes arménios de Karabakh aceitarem um acordo de cessar-fogo após apenas 24 horas de uma "operação antiterrorista" do Azerbaijão.
Segundo a Reuters, a liderança da região separatista anunciou que os 120 mil cidadãos de etnia arménia vão abandonar o enclave porque não querem viver como parte do Azerbaijão. O primeiro-ministro da Arménia disse que o país está pronto para os acolher.
Regresso das tensões no Cáucaso
Operação militar segue-se à suspensão do bloqueio (...)
"O nosso povo não quer viver como parte do Azerbaijão. 99,9% preferem abandonar as nossas terras históricas," disse David Babayan, um conselheiro de Samvel Shahramanyan, Presidente da auto-intitulada República de Artsaque.
"O destino do nosso pobre povo vai ficar na História como uma desgraça e uma vergonha para o povo da Arménia e para todo o mundo civilizado", continuou Babayan. "Os responsáveis pelo nosso destino vão ter que responder perante Deus pelos seus pecados", acrescentou.
O Azerbaijão, pelo seu lado, diz que garante os direitos dos habitantes de Karabakh e que vai integrar a região, mas os arménios temem repressão.
Na Arménia, a situação está a colocar pressão sobre o primeiro-ministro Nikol Pashinyan para se demitir por não conseguir acudir à região separatista. Mas, num discurso ao país, o líder político avisou que os arménios de Karabakh ainda correm "perigo de limpeza étnica".
"Se não forem criadas condições de vida sérias para os arménios de Nagorno-Karabakh nas suas casas, nem mecanismos efetivos de proteção contra limpeza étnica, então o provável é que vejam a expulsão da sua terra natal como a única saída", anunciou.
Vinte e quatro horas depois de o exército do Azerbaijão lançar uma operação "antiterrorista" na região separatista, o Azerbaijão e a Arménia aceitaram as condições da Rússia para chegar a um acordo de cessar-fogo. Os dois países iniciaram negociações.
O último conflito militar na região, em 2020, durou 44 dias, com um cessar-fogo assinado entre Azerbaijão, Arménia e Rússia. A guerra resultou numa perda efetiva de território do estado apoiado pela Arménia, cimentada com o acordo de tréguas: o Azerbaijão recuperou os territórios em torno de Nagorno-Karabakh que a Arménia tinha ocupado, assim como um terço da região disputada.
A disputa pela região é antiga, e ressurgiu durante o processo de dissolução da União Soviética. Uma guerra separatista eclodiu após a Arménia e o Azerbaijão obterem a independência, em 1991. O conflito só terminou em 1994, mas as tensões nunca desapareceram até agora.