06 out, 2023 - 16:24 • João Pedro Quesado
Narges Mohammadi foi o nome que o Comité do Nobel lançou para a posteridade esta sexta-feira. A vencedora do Prémio Nobel da Paz de 2023 era, até agora, conhecida maioritariamente nos círculos da luta pelos direitos humanos e das mulheres.
A ativista iraniana pelos direitos humanos, com 51 anos, está presa desde 2016. Mohammadi está a cumprir, na famosa prisão de Evin, várias sentenças por estabelecer e gerir "um movimento de direitos humanos que defende a abolição da pena de morte", assim como propaganda contra o Estado.
Nascida a 21 de abril de 1972, a jovem Narges estudou Física e tornou-se engenheira. Na universidade, escreveu em apoio dos direitos das mulheres no jornal dos estudantes, e foi detida em duas reuniões de um movimento político estudantil.
Foi aí que iniciou a vida de ativismo, passando ainda por alguns jornais reformistas - apoiantes de mudanças no regime teocrático do país do Médio Oriente - como jornalista.
"O meu objetivo então era lutar contra a tirania religiosa que, a par da tradição e dos hábitos sociais, levou à repressão social das mulheres", escreveu Narges no The New York Times, num texto de opinião que assinalou o primeiro aniversário da morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos. "Ainda é o meu objetivo", apontou.
A morte da jovem curda iraniana às mãos da polícia(...)
Em 2003, Mohammadi juntou-se ao Centro de Defensores de Direitos Humanos, uma organização não-governamental dirigida por Shirin Ebadi - até hoje, a única mulher iraniana a ser reconhecida com o Prémio Nobel da Paz.
Essa organização foi encerrada em 2009, após uma intervenção violenta da polícia iraniana.
O ativismo de Narges Mohammadi também tem origens mais profundas na infância. Em junho, numa entrevista ao mesmo jornal norte-americano, mencionou duas memórias específicas. Uma é a da mãe a encher um saco de compras vermelho com fruta para levar à prisão todas as semanas, junto com o irmão de Narges. A outra é também da mãe, mas sentada no chão, perto da televisão, a ouvir os nomes dos prisioneiros executados todos os dias.
Essa segunda memória não está completa sem uma segunda parte: o dia em que o nome do primo de Narges foi lido na televisão. A ativista, então apenas com nove anos, recorda-se dos lamentos da mãe, e da forma como ela foi então tomada pelo luto.
Narges Mohammadi é casada com Taghi Rahmani. Os dois conheceram-se quando Narges foi a uma aula clandestina em que Rahmani abordava a sociedade civil.
Também o marido já esteve detido, e está agora exilado em França, em conjunto com as filhas de 16 anos, gémeas, do casal. Rahmani não vê Narges há 15 anos, e as filhas não veem a sua mãe há sete anos. Isto é: a família não está toda junta praticamente desde o primeiro ano de vida das filhas.
"O apoio e reconhecimento global da minha defesa dos direitos humanos faz-me mais resolvida, mais responsável, mais apaixonada e mais esperançada", disse Mohammadi esta sexta-feira ao The New York Times. "Vou continuar a lutar contra a discriminação imparável, a tirania e a repressão devido ao género levada a cabo pelo governo religioso opressivo, até à libertação das mulheres", acrescentou.
"Também espero que este reconhecimento faça os iranianos manifestar-se pela mudança com mais força e mais organização", disse. "A vitória está próxima".