08 out, 2023 - 10:42 • Joana Azevedo Viana , Pedro Mesquita com agências
Um oficial militar israelita disse este domingo que 400 militantes do Hamas foram mortos no sul de Israel e na Faixa de Gaza e que dezenas deles foram capturados, no âmbito dos combates com militantes do grupo palestiniano.
O contra-almirante Daniel Hagari falou aos jornalistas esta manhã, mais de 24 horas depois de o grupo militante palestiniano ter lançado um ataque sem precedentes contra Israel, matando centenas de pessoas e sequestrando outras, enquanto eram lançados milhares de foguetes a partir de Gaza.
Israel está a combater militantes no sul do país e a lançar ataques aéreos em Gaza que já destruíram vários edifícios. O Ministério da Saúde em Gaza acusa as forças israelitas de atacarem deliberadamente pessoal médico e hospitais, matando três profissionais de saúde, ferindo outros três e destruindo cinco ambulâncias.
Fontes palestinianas referiram que pelo menos cinco edifícios foram destruídos em Gaza pelos bombardeamentos israelitas e que os hospitais estão em estado de emergência.
De acordo com a última contagem do Ministério da Saúde palestiniano, 313 habitantes de Gaza morreram até agora na ofensiva, incluindo 20 crianças, enquanto outros 1.990 palestinianos ficaram feridos nos bombardeamentos ao enclave, que está sob controlo do Hamas desde 2007.
Do lado israelita, de acordo com o Guardian, foram confirmadas até ao início da tarde de hoje mais de 600 mortos, incluindo 44 soldados. O Ministério da Saúde israelita fala ainda em 1.864 feridos, das quais 19 estão em estado crítico, 326 em estado grave e as restantes em estado moderado ou ligeiro.
A BBC adianta que dois turistas israelitas foram mortos em Alexandria, no Egito, a par do seu guia turístico de nacionalidade egípcia. A informação foi avançada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel. O suspeito das mortes é um agente da polícia entretanto detido. Este é o primeiro ataque contra israelitas no Egito em décadas, adianta o canal britânico.
Este domingo, Israel tem tido como alvos altos cargos da organização, incluindo a residência do chefe dos serviços secretos do Hamas na Faixa de Gaza.
"Os aviões de combate atacaram uma infraestrutura militar localizada na residência do chefe do departamento de inteligência da organização terrorista Hamas", informou o Exército israelita nas redes sociais, sem acrescentar mais informações.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) confirmaram também ataques noturnos contra 10 infraestruturas operacionais, duas sucursais bancárias e um armazém de armas.
Médio Oriente
Pelo menos 300 israelitas e 232 palestinianos morr(...)
Algumas horas antes, as IDF haviam explicado que, "depois da avaliação da situação, foi decidido emitir uma ordem de encerramento de uma zona militar na região da Divisão de Gaza", acrescentando que "entrar na zona está estritamente proibido" e pedem à população para estar atento e não entrar nos lugares.
A guerra chegou entretanto ao Líbano, com as forças israelitas a bombardearem alvos do Hezbollah nas disputadas Fazendas de Shebaa.
Londres anunciou entretanto o reforço da presença da polícia nas ruas depois de terem surgido vídeos com pessoas a celebrar o ataque de sábado a Israel, o que, de acordo com o Governo britânico, "glorifica as atividades terroristas do Hamas".
O ministro da Imigração, Robert Jenrick, instou a Polícia Metropolitana de Londres a intervir, partilhando um vídeo publicado nas redes sociais, no sábado à noite, pela apresentadora de televisão britânica Rachel Riley, na sequência da ofensiva do Hamas.
"Acabo de me cruzar com dois carros na zona oeste de Londres que circulam com bandeiras palestinianas em todas as janelas, saltando para cima e para baixo nos seus carros, aparentemente celebrando como se estivessem em festa", lê-se na publicação partilhada pela apresentadora na rede social X (antigo Twitter).
"Não se enganem, este é um momento perigoso e assustador para todos os judeus do mundo", acrescentou.
Pouco depois, Riley publicou um novo vídeo com pessoas a segurarem bandeiras palestinianas, a buzinarem e a aplaudirem, com a descrição: "As pessoas foram brutalmente assassinadas, raptadas e há pessoas em Londres a dançar", disse.
A polícia londrina (Scotland Yard) garantiu que está "ciente de uma série de incidentes, incluindo os partilhados nas redes sociais, relacionados com o conflito em curso em Israel e na fronteira com Gaza", e que "aumentou as patrulhas policiais em algumas partes de Londres".
A polícia disse ainda que "o conflito em curso pode levar a protestos nos próximos dias", garantindo que vai assegurar "um plano policial adequado para equilibrar o direito ao protesto com qualquer perturbação para os londrinos".
O chefe da diplomacia norte-americana conversou no sábado com o homólogo egípcio, na esperança de o Egito, intermediário importante entre Israel e o Hamas, ajudar a terminar com a ofensiva do movimento palestiniano, segundo o Departamento de Estado.
Antony Blinken, numa conversa telefónica com Sameh Shokri, enfatizou "a urgência de alcançar um fim imediato ao terrível ataque dos terroristas do Hamas contra Israel", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, citado pela agência France-Presse (AFP).
Durante o dia de sábado, o Egito, que assinou um acordo de paz com Israel em 1979 e é um mediador decisivo entre este país e a Palestina, disse ter mantido "contactos intensos centrados em setores internacionais influentes para garantir esforços unificados e consistentes (...) e prevenir que a situação fique fora de controlo".
O português acredita que os números de mortos e fe(...)
O ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, Sameh Shokri, abordou "os esforços para conter a escalada" com as suas homólogas da França, Catherine Colonna, e da Alemanha, Annalena Baerbock, e ainda com o alto representante para a Política Externa da União Europeia (UE), Josep Borrell, indicou o ministério em comunicado.
Shokri manteve contactos similares com os seus homólogos da Jordânia, Ayman al Safadi, e dos Emirados Árabes Unidos, Abdala bin Zayed, cujos países também assinaram acordos de paz com Israel em 1994 e 2020.
Os EUA também continuam em contacto com Israel, tendo mantido no sábado uma “discussão aprofundada” sobre necessidades de ajuda militar, adiantou uma fonte da Casa Branca.
O alto responsável da administração Biden, que falou sob anonimato e foi citado pelas agências internacionais, indicou ser possível um anúncio por parte de Washington já este domingo, mas reconheceu que o executivo norte-americano enfrenta uma situação parlamentar complicada, pelo facto de uma das câmaras do Congresso estar paralisada após a destituição do seu líder republicano, Kevin McCarthy.
“Provavelmente, o Congresso tem um papel a desempenhar nesta matéria e, sem o ‘speaker’ [presidente] da Câmara dos Representantes [câmara baixa], enfrentamos uma situação inédita que será necessário gerir”, assinalou.
A mesma fonte reconheceu ainda que “é muito cedo para dizer” se o Irão está “diretamente envolvido” na ofensiva lançada pelo Hamas contra Israel e os Estados Unidos não têm “qualquer indicação” sobre isso neste momento.
Acrescentou, no entanto, que “não há dúvida” de que o Hamas é “financiado, equipado e armado” pelo regime de Teerão, entre outros.
Entretanto, e depois dos ataques com foguetes a Telavive, um português a viver na capital de facto de Israel relata à Renascença uma situação mais calma esta manhã.
"Não se ouvem sirenes desde as 22h [de sábado]. Isto é um país que está em guerra, mas está mais calmo, há carros na rua, há pessoas - poucas, mas há - a passar, algum comércio aberto, uma certa normalidade", explica David Rosh Pina.
"Uma coisa que se vê muito na rua aqui são soldados, reservistas que têm vidas normais e que têm de ser chamados, vê-se muita gente ou com o uniforme [das IDF] ou com mochilas a entrar em carros e a ir participar [na contraofensiva hebraica]. É um bocado ingénuo da parte do inimigo achar que Israel se vai dividir por questões políticas numa situação destas."
Sobre o que se pode esperar nas próximas horas e dias, Rosh Pina diz não ter "uma bola de cristal", mas antevê um "retomar do controlo militar e o bombardeamento de Gaza".
Reaver o controlo "não vai ser tão rápido como foi da última vez", vaticina o português em Telavive, "porque neste momento há partes inteiras no sul de Israel que não estão sob controlo militar israelita, o que é uma coisa muito estranha, e há a possibilidade de o Hezbollah entrar no norte, que é o que toda a gente teme".
Ainda assim, derrotar o Hamas será uma questão "de dias", acrescenta. "Não acho que seja uma operação militar que demore mais do que uma semana."
O grupo islâmico Hamas lançou no sábado um ataque surpresa contra o território israelita, sob o nome de operação "Tempestade al-Aqsa", com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados por terra, mar e ar.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou que Israel está "em guerra" com o Hamas. A meio da manhã deste domingo, continuavam os confrontos entre israelitas e militantes palestinianos em oito localidades do sul de Israel.
As forças do Estado hebraico já conseguiram resgatar alguns israelitas que foram mantidos como reféns pelo Hamas nas zonas libertadas, embora não tenha fornecido números. Cinquenta pessoas - soldados, mas também civis - continuam sequestradas pelo grupo dentro de Gaza.
As autoridades israelitas declararam estado de emergência em todo o país, além de demarcarem uma zona militar fechada à volta da Faixa de Gaza, enquanto planeiam retirar todos os residentes da área.
[atualizado às 13h39]