19 out, 2023 - 02:38 • Lusa
O serviço de mensagens instantâneas Telegram tornou-se a principal via de comunicação no conflito israelo-palestiniano, com a publicação de fotos e vídeos gráficos pelo Hamas.
Tal como na Síria e na Ucrânia, esta ferramenta de mensagens instantâneas e de rede social tornou-se o canal de comunicação favorito em ambos os campos.
Conhecida inicialmente como a aplicação favorita do Daesh, o Telegram é agora utilizado por instituições, políticos e criminosos que o usam para fugir às autoridades e ainda para facilitar o tráfico.
O Telegram foi fundado há 10 anos pelos irmãos russos Pavel e Nikolai Durov, ambos opositores de Vladimir Putin.
A plataforma encriptada e com total anonimato das informações dos seus utilizadores conta com mais de 700 milhões de utilizadores. Inclui grupos que podem ir até aos 200 mil subscritores, sendo que as mensagens dos mesmos podem ser visualizadas por todos.
O Telegram, com sede no Dubai, protege-se das regras de moderação do Estado, num momento em que a UE e os Estados Unidos pressionam grandes plataformas para removerem conteúdos ilegais.
A ex-deputada francesa Laetitia Avia e a advogada Rachel-Flore Pardo apelaram, no final de 2022, ao "fim da impunidade do Telegram".
Com conteúdos odiosos, neonazistas, pedófilos, conspiratórios e terroristas, a UNESCO revelou no verão de 2022 que metade do conteúdo relacionado à Shoah (Holocausto) na aplicação é negacionista.
Desde o início do conflito israelo-palestiniano, é possível observar no Telegram imagens e vídeos de assassinatos e de reféns publicados pelo Hamas, grupo islâmico banido das grandes plataformas, como o X (antigo Twitter).
"Centenas de milhares de pessoas registaram-se no Telegram em Israel e na Palestina" escreveu Pavel Durov no seu blog a 8 de outubro, realçando o papel fundamental dos mesmos como fontes primárias de informação.
"Muitos dos vídeos mais chocantes vêm primeiro do Telegram e só depois é que chegam às outras plataformas. As organizações terroristas utilizam-no frequentemente", comentou o especialista francês em redes sociais, Tristan Mendès France.
"Escolhemos o Telegram pela sua confidencialidade", acrescentou o especialista.
O especialista em OSINT (Inteligência para Fontes Abertas, em português), Julien Métayer destacou também que "muitos dos antigos fóruns da `darkweb` estão agora no Telegram", onde "são leiloados dados roubados e se contratam assassinos".
A 13 de outubro, Pavel Durov defendeu a manutenção das contas do Hamas: "No início desta semana, o Hamas usou o Telegram para alertar os civis em Ashkelon, em Israel para abandonarem a área antes dos seus ataques com mísseis".
No entanto, na noite de segunda-feira, o Telegram bloqueou, apenas na Europa, uma conta do Hamas, onde foi transmitido um vídeo de um refém franco-israelita.
"Esta conta não pode ser exibida por ter violado as leis locais", afirmou a plataforma.
A Comissão Europeia esclareceu que não interveio porque o Telegram não é considerado umas das "grandes plataformas" sujeitas às obrigações de remoção de conteúdos ilegais pela DAS Europeia (Lei dos Serviços Digitais).