23 out, 2023 - 18:33 • João Pedro Quesado
Sabemos que a última vez que a Humanidade esteve na Lua foi há 51 anos. Sabemos que o regresso está planeado para o final de 2025. Sabemos que a Lua foi formada depois da colisão de um objeto do tamanho de Marte com a Terra. Sabemos que esse impacto foi há cerca de 4,425 mil milhões de anos.
Ou sabíamos. Um novo estudo, publicado esta segunda-feira, diz que a Lua é cerca de 40 milhões de anos mais velha do que se pensava até agora. O que significa que o satélite natural da Terra se formou nos 110 milhões de anos após a formação do sistema solar.
Como se chega a esta conclusão tanto tempo depois de ir à Lua? A chave foi, precisamente, a última missão Apollo.
Todas as missões Apollo que alunaram recolheram amostras. Ao todo, 382 kg de rochas e solo lunar foram trazidos para a Terra. Ao longo dos anos, as amostras foram sendo estudadas por cientistas para perceber mais sobre a Lua e o seu processo de formação.
Artemis III
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Algumas das amostras foram deixadas de lado, armazenadas para serem analisadas com tecnologia mais avançada que seria, eventualmente, desenvolvida.
Foi precisamente através de uma dessas amostras, recolhida pelo astronauta e geólogo Harrison Schmitt durante a missão Apollo 17, que uma equipa de cientistas determinou a nova idade da Lua.
Através de uma nova técnica de análise - uma tomografia de sonda atómica, que utiliza um laser para evaporar os átomos dos cristais e permite datar a amostra através do decaimento radioativo -, os cientistas perceberam que a Lua tem, afinal, pelo menos 4,46 mil milhões de anos.
Mas que importa esta diferença, tão pequena quando se falam de milhares de milhões de anos?
“O tempo é tudo”, disse Jennika Greer, uma das autoras do estudo e cosmoquímica na Universidade de Glasgow, à National Geographic. “O nosso sistema solar já existe há muito tempo, mas muitos dos processos realmente dinâmicos aconteceram naqueles primeiros milhões de anos”.
Um desses processos dinâmicos foi a formação da Terra. A colisão com a Terra tornou tudo em rocha líquida, e lançou material suficiente para formar, depois de a órbita estabilizar e de todo o material rochoso eventualmente arrefecer, o que viemos a conhecer como Lua.
Ao The Guardian, o investigador Romain Tartèse, da Universidade de Manchester, elogiou o novo estudo, mas salvaguardou que as amostras estudadas podem não se aplicar a toda a Lua.
“Isto sublinha a importante de recolher mais amostras, de diferentes regiões da Lua, em missões futuras”, declarou.
É precisamente isso que está previsto para a missão Artemis III, que deve explorar o Polo Sul lunar no final de 2025. Phillip Heck, outro dos autores do estudo, defendeu à Popular Science que pode haver minerais ainda mais velhos na Lua.
“Estou convencido que há coisas mais velhas na Lua – simplesmente não a encontramos ainda. Até acho que temos cristais mais velhos nas amostras da Apollo”, atirou Heck, para quem o futuro trará uma melhor definição da cronologia da formação do sistema solar.
“Talvez daqui a 50 ou 100 anos, ou ainda mais tarde, novas gerações de cientistas vão ter as ferramentas com que apenas podemos sonhar hoje para responder a questões científicas em que nem conseguimos pensar hoje”, conclui o investigador.