25 out, 2023 - 17:40 • Redação com Lusa
O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, considerou esta quarta-feira o Hamas um "grupo de libertação" e não uma organização terrorista, e anunciou que cancelou planos para visitar Israel.
"O Hamas não é uma organização terrorista, mas um grupo de libertação que luta para proteger a sua terra e os seus cidadãos", disse Erdogan durante uma reunião do partido governamental no parlamento de Ancara.
Israel já reagiu às declarações, condenando a postura do Presidente turco.
"O Hamas é uma organização terrorista desprezível, pior que o Estado Islâmico, que assassina brutal e intencionalmente bebés, crianças, mulheres e idosos" e que "toma civis como reféns e usa o seu próprio povo como escudo humano", reagiu Lior Haiat, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel.
Haiat criticou ainda "a tentativa do Presidente turco de defender a organização terrorista" e sublinhou que "as suas palavras incitantes não mudarão os horrores que o mundo inteiro viu e o facto inequívoco de que o Hamas é igual ao Estado Islâmico".
Israel, Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia qualificam o grupo islamita palestiniano Hamas como uma organização terrorista.
Erdogan atacou as potências ocidentais "que choram por Israel e não fazem mais nada", acusando-as de hipocrisia.
"O facto de aqueles que mobilizaram o mundo a favor da Ucrânia não se pronunciarem contra os massacres em Gaza é o sinal mais flagrante da sua hipocrisia", afirmou.
O Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007, lançou um ataque sem precedentes em território de Israel em 07 de outubro, que causou mais de 1.400 mortos, segundo as autoridades israelitas.
Os comandos do grupo também raptaram duas centenas de israelitas e estrangeiros que mantêm como reféns na Faixa de Gaza, um pequeno território palestiniano com 2,3 milhões de habitantes.
Israel declarou guerra ao Hamas após o ataque e tem bombardeado Gaza desde então, com um saldo de mais de 6.500 mortos, de acordo com o mais recente balanço divulgado pelo grupo islamita.
"Quase metade dos mortos pelos ataques de Israel a Gaza são crianças", denunciou Erdogan.
Num discurso violento, o líder turco acusou Israel de "brutalidade premeditada para cometer crimes contra a humanidade".
"Os ataques a Gaza revelam a existência de assassinatos e de doenças mentais entre os que os executam e os que os apoiam", afirmou, citado pelas agências internacionais.
Erdogan encontrou-se pela primeira vez com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em setembro, em Nova Iorque, no âmbito de uma aproximação entre os dois países.
"Apertei a mão a este homem, tínhamos boas intenções, mas ele abusou de nós. As relações poderiam ter sido diferentes, mas infelizmente isso não voltará a acontecer", afirmou.
O chefe de Estado turco disse que tinha planos para visitar Israel, mas que os cancelou devido ao comportamento do exército israelita.
"Não iremos", garantiu.
Erdogan disse que não é possível encontrar "outro Estado cujo exército se comporte de forma tão desumana", referindo-se aos bombardeamentos israelitas contra Gaza na sequência do ataque do Hamas.
"Não temos problemas com o Estado de Israel, mas nunca aprovámos as atrocidades cometidas por Israel e a forma como atua como uma organização e não como um Estado", afirmou.
Erdogan apelou ainda para a fundação de uma "Palestina independente" e para a realização de uma conferência entre Israel e os palestinianos, propondo que a Turquia atue como garante de qualquer acordo futuro.
Logo a seguir ao ataque do Hamas, Erdogan, apoiante da causa palestiniana, alertou Israel para os riscos de um ataque indiscriminado contra civis na Faixa de Gaza, durante uma conversa telefónica com o homólogo israelita, Isaac Herzog.