26 out, 2023 - 08:55 • Pedro Mesquita , em Bruxelas com Redação
A chave para desbloquear o texto final do Conselho Europeu que começa esta quinta-feira, em Bruxelas, relativamente à necessidade de levar ajuda humanitária aos palestinianos, deverá ser “pausa humanitária” ou, ainda com mais probabilidade, "pausas humanitárias".
Nas reuniões dos líderes europeus todas as palavras têm um peso extra - é a diferença entre conseguir chegar, ou não, a consenso. Quando o tema é o Médio Oriente, torna-se necessário acomodar todas as sensibilidades para chegar a uma declaração final, que deixe a União Europeia (EU) a falar a uma só voz.
À chegada ao Conselho Europeu ao final da manhã desta quinta-feira, Charles Michel disse estar "confiante" numa posição "unida" dos 27.
"Os civis devem ser protegidos sempre e em qualquer lugar. Teremos uma boa decisão, um bom debate com os líderes, e estou confiante de que, mais uma vez, afirmaremos uma posição muito forte e unida."
Apesar de não ter sido questionado sobre a polémica instalada em Nova Iorque, face às recentes declarações do secretário-geral da ONU, Michel começou por insistir aos jornalistas que Israel tem o direito a defender-se, condenando o ataque de 7 de outubro perpetrado pelo Hamas no Estado hebraico.
"Em tempos difíceis, é muito importante demonstrar novamente que a União Europeia está unida, unida para defender os nossos princípios, para defender os nossos valores, e é por isso que apoiamos Israel e o seu direito de se defender de acordo com o direito internacional e o direito humanitário internacional. Condenamos o Hamas e este ataque terrorista violento."
Antes da reunião, o social-democrata Paulo Rangel disse acreditar que ainda poderá vingar a sugestão dos deputados europeus.
"A expressão 'pausa humanitária' ainda tem condições para fazer o seu caminho. Não será tecnicamente um cessar-fogo, serão intervalos, por vezes até relativamente curtos, para permitir o estabelecimento de corredores de chegada de material humanitário", diz.
O eurodeputado explica que 'pausa humanitária' é uma expressão da autoria do Parlamento Europeu e que foi criada com o objetivo de "encontrar um consenso entre aqueles que põem mais o tom na urgência humanitária que existe na Faixa de Gaza e aqueles põem mais na necessidade de travar o movimento impiedoso de terrorismo como é o do Hamas".
"Portanto, encontra-se aqui uma fórmula que eu acho que o Conselho Europeu tem condições para resgatar", acrescenta.
A propósito das tensões no Médio Oriente, o nome mais falado em Bruxelas nas horas que antecederam a cimeira dos líderes europeus, tem sido Guterres. Todos os jornalistas fazem perguntas sobre o que disse o Secretário-Geral da ONU no Conselho de Segurança, mas poucos acreditam numa posição conjunta dos 27 sobre a polémica. Vai ficar ao critério de cada país, até porque António Guterres já veio a publico clarificar aquilo que, realmente, queria dizer ao afirmar que os ataques do Hamas a Israel não aconteceram do nada.
De resto, ninguém espera muito deste Conselho Europeu. Sobre a Ucrânia, as conclusões finais deverão reafirmar tudo o que já foi dito.
Também parece ainda não existir decisões a propósito das migrações. O rascunho inicial, ao qual a Renascença teve acesso, limita-se a dizer que o Conselho Europeu realizou um debate estratégico sobre o tema. Vai ser importante esperar pelo texto final das conclusões porque, em linguagem diplomática, “nada está decidido até tudo estar decidido”.
[atualizado às 12h57]