27 out, 2023 - 06:30 • Catarina Santos , enviada da Renascença a Israel
Hassan Zoarob não vê a família há perto de três semanas. A mulher, a filha de nove anos, seis irmãs e quatro irmãos estão em Kahn Younis, cidade no sul da Faixa de Gaza. Ele está encurralado nos arredores de Belém, na Cisjordânia.
O dia 7 de outubro estava a ser um dia normal de trabalho, numa plantação de pepinos na zona de Rahat, a 30 quilómetros de Gaza. Até que o patrão o abordou, pediu que abandonasse imediatamente o que estava a fazer e o informou de que a autorização de trabalho que lhe permitia trabalhar em Israel tinha sido cancelada.
“Nesse momento, não sabíamos o que tinha acontecido, estávamos a trabalhar”. Conta que soldados israelitas o enviaram para a Cisjordânia de imediato. Primeiro foi para Ramallah e depois acabou no centro de acolhimento de Belém, onde estão outros cidadãos de Gaza nas mesmas condições.
Hassan é um entre cerca de 18 mil palestinianos de Gaza aos quais Israel tinha dado permissão para trabalhar no país — a maioria nos setores da agricultura e construção.
O processo de candidatura a uma autorização envolvia apertados controlos de segurança e os que conseguiam tinham restrições severas quanto ao que podiam transportar para Israel quando passavam o posto de controlo de Erez, no norte de Gaza — o único pelo qual se entrava e saía do território. A maioria dos trabalhadores não voltava a Gaza diariamente, ficava uma ou duas semanas nos locais de trabalho.
Não se sabe quantos estariam efetivamente em Israel quando o Hamas iniciou o ataque que matou mais de 1.300 israelitas. E não é certo, por isso, quantos milhares poderão estar espalhados por cidades da Cisjordânia — ou mesmo quantos estão detidos.
De acordo com o jornal The Time of Israel, uma parte destes trabalhadores estarão em instalações militares israelitas no nordeste de Jerusalém. O Canal 12 israelita diz que o número de cidadãos de Gaza detidos pode rondar os 4.000.
Organizações de defesa dos direitos humanos israelitas têm levantado dúvidas quanto à legalidade destes “internamentos”, que decorrem enquanto as forças israelitas procuram determinar se houve indivíduos com licenças de trabalho que passaram informações ao Hamas para preparar os ataques.
Hassan viu alguns compatriotas serem detidos. Não teve o mesmo destino, mas sente-se igualmente preso. “Entrámos em Israel legalmente e agora não sabemos como voltar para casa”, afirma.
Os dias em que não consegue contactar a família aumentam a ansiedade. “Por vezes ficamos três dias sem conseguir falar, estamos em constante stress”.
No local onde foi acolhido estão mais alguns palestinianos nas mesmas circunstâncias. Fica nos arredores de Belém, tem “as coisas básicas” necessárias para sobreviver, mas Hassan não tem dinheiro, sente-se encurralado e não sabe quanto tempo ficará nesta situação. “Se tivesse a possibilidade de ir ter com a minha família, mesmo debaixo de fogo, ia imediatamente”, assegura.