31 out, 2023 - 23:16 • Diogo Camilo
Frustração, desconhecimento e linguagem colorida. O inquérito público independente sobre a resposta do Reino Unido à pandemia e o impacto da Covid-19 no país veio revelar várias mensagens trocadas entre os mais altos representantes britânicos no WhatsApp, que mostram como se sentiam perante a gestão de Boris Johnson.
Nas respostas reveladas pela Sky não constam todas as mensagens da conversa “Atualizações do PM [Primeiro-Ministro]. Isto porque um técnico superior ativou a “função de desaparecimento de mensagens” a 15 de abril de 2021, justificando-se que não se lembra por que o fez.
Entre as mensagens que o inquérito teve acesso está visível a frustração de Dominic Cummings, consultor político de Boris Johnson até ao final de 2020.
“Devemos anunciar HOJE - não na próxima semana - [a medida do] ‘se está doente, fique em casa”, indicou, referindo que o governo britânico estava “totalmente atrás do acontecimento” e que existiam “grandes problemas a caminho”.
Cummings denuncia ainda que Boris Johnson teve um “esgotamento” e que entrou em modo “Tubarão”, numa conversa com o então diretor de comunicação de Downing Street, Lee Cain, após uma reunião com o antigo primeiro-ministro e agora chefe de Governo, Rishi Sunak, então ministro de Johnson.
A referência a Tubarão deve-se ao autarca no filme "Jaws", de 1975 de Steven Spielberg, que defende que as praias devem continuar abertas apesar dos ataques de tubarão.
“Tive de ficar aqui sentado durante duas horas só para o parar de dizer coisas estúpidas. É uma questão de tempo até ele expor que não sabe o que dizer”, acrescentou.
Cummings não foi o único a tecer críticas a Boris Johnson por mensagem. O secretário de gabinete, Simon Case, disse mesmo que Johnson “não pode liderar”.
“Não podemos apoiá-lo com esta abordagem. Estou no fim da linha. Ele muda de estratégia todos os dias”, escreveu, falando numa “equipa fraca” a rodeá-lo, dando a entender que falava de nomes como os do antigo secretário de Estado da Saúde, Matt Hancock, e do antigo secretário de Estado da Educação, Gavin Williamson.
Noutra situação, em fevereiro de 2021, Boris Johnson perguntou ao seu executivo acredita em formas longas da Covid-19: “Acreditamos mesmo na longa Covid? Por que não nos conseguimos proteger? Aposto que é um coisa como a Síndrome da Guerra do Golfo”, escreveu.