14 nov, 2023 - 18:03 • João Pedro Quesado
Uma nova investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) revelou novas ligações financeiras entre Roman Abramovich e Vladimir Putin. A investigação, desenvolvida ao longo de oito meses, mostra que vários oligarcas russos usaram o Chipre para movimentar dinheiro para o Presidente e regime da Rússia.
De acordo com a BBC - uma das 69 organizações a participar na investigação -, Roman Abramovich, o milionário russo com passaporte português, entregou uma quota secreta numa empresa russa de publicidade a dois homens próximos de Vladimir Putin. Os homens são apelidados de 'carteiras' do Presidente russo, por deterem, de forma secreta, dinheiro e bens de Putin, protegendo-os.
Roman Abramovich, russo, israelita e português desde 30 de abril de 2021, tem negado sempre qualquer tipo de relação financeira com Vladimir Putin e o regime russo. Após a União Europeia (UE) lhe aplicar sanções financeiras em março de 2022, logo após o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, o ex-dono do Chelsea disse que estava a ser perseguido devido à sua fama.
Segundo a BBC, os documentos mostram que, em 2003, Abramovich comprou 25% das ações na Video International por cerca de 260 mil dólares.
Essa compra foi efetuada através de um fundo de que Abramovich era o maior beneficiário, com o fundo a deter duas empresas no Chipre. Cada uma dessas empresas comprou 12,5% das ações da Video International.
O preço que pagou foi considerado "ridículo" por Vladimir Milov, o ministro da Energia no primeiro mandato de Putin que acabou por se tornar parte da oposição ao atual Presidente. A empresa recebia uma parte de todas as compras de tempo publicitário em canais russos, e teve receitas de três mil milhões de dólares em 2010.
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Nesse mesmo ano, as empresas usadas por Abramovich para a compra venderam as suas participações por cerca de 40 milhões de dólares no total.
Uma dessas empresas vendeu a participação a uma empresa detida por Sergei Roldugin, um violoncelista e maestro que é amigo próximo de Putin desde a juventude de ambos.
A outra empresa ligada a Abramovich vendeu a participação a uma empresa ligada a Aleksandr Plekhov - um bioquímico que se transformou em banqueiro.
Sergei Roldugin e Aleksandr Plekhov já foram identificados, por procuradores suíços, como homens que encobrem benefícios pessoais para Putin.
A investigação Chipre Confidencial, liderada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, revela que muitos russos têm usado o Chipre - Estado-membro da União Europeia desde 2004 - como parte da rede de investimentos offshore. Segundo o ICIJ, o sistema económico da ilha consistia num setor financeiro sobredimensionado, potenciado por leis de transparência que estão entre as mais fracas da UE.
A análise do consórcio internacional indica que 96 russos, alvos de sanções, foram clientes de empresas cipriotas. Dois terços dos bilionários russos identificados pela Forbes surgem nos documentos da investigação como clientes das mesmas empresas - como o ramo no Chipre da consultora PwC, que ajudou oligarcas russos a escapar às sanções europeias.