16 nov, 2023 - 12:00 • Redação
“É preciso ter cuidado nos corredores para não pisar ninguém, porque o hospital está cheio de gente."
O retrato é feito à Renascença por Nebal Farsakh, porta-voz do Crescente Vermelho Palestiniano. A responsável diz que os hospitais passaram a ser um local de procura de abrigo, principalmente para os deslocados internos que seguem do norte para o sul da Faixa de Gaza.
“Nos hospitais, não há água nem para a higiene dos médicos nem para os doentes”, conta, ainda, dando mais um exemplo da realidade: “Algumas cirurgias estão a ser feitas sem anestesia porque já não há."
“Há um hospital que está aberto para receber alguns casos em Gaza, mas lá só estão a trabalhar dois médicos”, diz Nebal Farsakh, sublinhando que, tirando este caso, já não há unidades hospitalares a funcionar na cidade de Gaza.
“Há, por exemplo, um hospital que está aberto para receber alguns casos, em Gaza, mas lá só estão a trabalhar dois médicos. As pessoas, depois de terem de deixar as suas casas, procuram refúgio num hospital mais próximo. Pensam que estão num lugar seguro, mas, infelizmente, não é o caso porque até os hospitais são uma armadilha e estão sob ameaça de serem bombardeados a qualquer momento.”
O Crescente Vermelho Palestiniano administrava o segundo maior hospital da capital, o Al-Quds, mas a porta-voz confirma que tiveram de o fechar.
De acordo com a representante do Crescente Vermelho Palestiniano, apenas dez dos 35 hospitais na Faixa de Gaza estão operacionais neste momento.
Nebal Farsakh realça que estes dez hospitais estão em ameaça de fechar a qualquer segundo. “Segundo o Ministério de Saúde Palestiniano, os hospitais que ainda estão a funcionar, devem deixar de ter combustível nas próximas 24 horas, o que significa que vão deixar de ter energia."
Nebal Farsakh avança que os restantes 25 hospitais deixaram de funcionar por causa dos bombardeamentos ou por falta de combustível, que é a fonte de energia para aparelhos médicos, como as incubadoras.
Guerra no Médio Oriente
“Não temos eletricidade. Não há água no hospital. (...)
“Hospitais, como, por exemplo, o hospital Al-Shifa, estão rodeados pelas forças de ocupação israelitas", confirma Nebar Farsakh, comparando o cenário ao de “uma área militar.”
“Existem tanques israelitas e forças militares que atacam qualquer pessoa nesta área. Até os pacientes que estão no interior do hospital e as equipas médicas não podem sair. Estão presos, agora”, descreve a porta-voz. A escassez de comida e de água "torna a situação mais crítica”.
A representante conta que a sua organização tem recebido dezenas de telefonemas de pessoas que moram perto do hospital Al-Shifa e têm medo de sair de casa.
“As pessoas estão presas nas suas casas e muitos familiares ficam feridos. Chamam ambulâncias, mas, infelizmente, as equipas de resgate não conseguem chegar às pessoas porque a área é extremamente perigosa."
A porta-voz esclarece que muitas ambulâncias já ficaram sem combustível, mas mesmo que o tivessem estariam impedidas de chegar perto do hospital.
O hospital Al-Shifa está cercado desde esta quarta-feira pelas forças israelitas e os militares entraram na unidade, no âmbito da operação de retaliação contra o ataque de 7 de outubro. realizado pelo movimento palestiniano Hamas. A Força de Defesa de Israel (IDF) dizem ter encontrado um centro de comando do Hamas e armas.
Israel acusa o Hamas de usar este hospital como base em túneis construídos debaixo do edifício, denúncia que o movimento palestiniano nega.
Entretanto, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, classificou os ataques a Al-Shifa como "totalmente inaceitáveis".
“A ajuda que foi permitida entrar em Gaza desde o início da escalada do conflito é apenas uma gota no oceano. Não responde às necessidades humanitárias de mais de 2 milhões de civis que precisam de comida e de água. Também não é suficiente para atender às necessidades dos hospitais. Todos estão em colapso, todos sofrem com a extrema escassez de medicamentos e de material médico. Apelamos à importância de permitir a entrada de combustível.”
Neste contacto mantido com a Renascença na manhã desta quinta-feira, Nebal Farsakh desabafa que a última noite foi a primeira em que conseguiu dormir direito desde 7 de outubro. “A vida dos meus colegas está sob ameaça todos os segundos.”
Mas o pior para Nebal, é não saber, muitas vezes, como estão os coelgas porque as comunicações com Gaza estão limitadas. “Passamos dias sem falar. Já passamos uma semana sem comunicação nenhuma, nem Internet tínhamos. Eles podiam perder a vida que não íamos saber."
Três portugueses morreram, esta quinta-feira, num bombardeamento no sul de Gaza - uma adulta e duas crianças. A informação é confirmada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE).