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Terrorismo nas redes. Bin Laden voltou à boleia do TikTok

17 nov, 2023 - 20:48 • João Pedro Quesado

A "Carta à América" que o falecido terrorista escreveu para justificar os ataques do 11 de setembro de 2001 ganhou popularidade. De tal forma que o jornal "The Guardian" apagou a tradução, publicada em 2002.

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O líder do grupo terrorista Al-Qaeda, Osama bin Laden, morreu a 2 de maio de 2011, numa operação secreta dos Estados Unidos da América no Paquistão. Mas, mais de 12 anos depois da morte, e 22 anos após os atentados de 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gémeas e o Pentágono, já sabemos que a internet não esquece - aliás, até relembra.

Começaram a surgir, esta semana, vídeos na rede social TikTok em que jovens utilizadores citam partes de um famoso texto do falecido líder terrorista, "Carta à América". Na maioria dos vídeos, os jovens descrevem como o texto lhes terá dado uma nova perspetiva sobre o contexto histórico dos ataques de 11 de setembro.

O texto ressurgiu no contexto dos atuais bombardeamentos e operações militares na Faixa de Gaza, lançados por Israel após o ataque do Hamas a 7 de outubro, em que o grupo terrorista matou 1.200 pessoas. Mais de 11.500 pessoas morreram até esta sexta-feira na Faixa de Gaza, 29.800 pessoas ficaram feridas e 3.250 estão desaparecidas sob os escombros, num momento em que Israel pede agora para os palestinianos "evacuarem" o sul da região.

O que diz a "Carta à América"?

A carta de Osama bin Laden é um texto de quatro mil palavras que começou a circular pouco tempo depois dos ataques terroristas suicidas de 11 de setembro de 2001. Nesse dia, entre o uso de aviões comerciais para derrubar as Torres Gémeas e atingir o Pentágono, e o avião que foi despenhado pelos passageiros na Pensilvânia para evitar que fosse usado contra o Capitólio ou a Casa Branca, morreram 2.996 pessoas.

Bin Laden justifica os ataques com vários argumentos: a criação de Israel, assim como o apoio norte-americano ao país; ataques na Somália, apoio às atrocidades russas na Chechénia, à "opressão" indiana em Caxemira e à "agressão judaica" no Líbano; e o apoio aos "governos dos nossos países" para ataques "diários".

O então líder da Al-Qaeda também argumentava que esses governos "nos impedem de estabelecer a sharia islâmica", e apontava ao roubo de petróleo, à proliferação de bases militares norte-americanas e à morte de crianças no Iraque devido às sanções económicas.

Para Osama bin Laden, a "agressão contra civis" tornava-se justa por estes escolherem os governos dos EUA que optaram por estas políticas. Para além disso, "Alá legislou a permissão e a opção de se vingar", e os americanos permitem "atos de imoralidade" - como a homossexualidade, que devem passar a rejeitar.

Uma tradução da carta foi publicada em 2002, pelo jornal "The Guardian". Ao notar o aumento repentino de atenção que o texto estava a ter nos últimos dias, "sem o contexto completo", o jornal britânico optou por remover por completo o documento. Agora, os leitores são encaminhados para uma notícia do The Observer, em que a carta é contextualizada.

Contudo, a remoção provocou ainda mais interesse na carta de Osama bin Laden.

TikTok removeu vídeos

Segundo a CNN, os vídeos sobre o tema acumularam cerca de 14 milhões de visualizações até esta quinta-feira.

O TikTok disse que os vídeos que promovem a carta violam as regras contra "o apoio de qualquer tipo de terrorismo". Para além disso, a empresa afirmou estar a "remover este conteúdo proativamente e agressivamente", assim como a "investigar" como chegou à rede social.

Entretanto, a 'hashtag' "#lettertoamerica" foi removida da pesquisa na rede social.

Segundo o mais recente relatório anual do Reuters Institute for the Study of Journalism, o TikTok é cada vez mais usado para o consumo de notícias. 44% dos jovens na faixa etária entre os 18 e os 24 anos usam a rede social "para qualquer finalidade", enquanto 20% usam para aceder a notícias.

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