19 nov, 2023 - 16:11 • Redação com Lusa
Os "horríveis acontecimentos" das últimas 48 horas em Gaza "ultrapassam o entendimento" humano, afirmou, este domingo, o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk.
"A morte de tantas pessoas em escolas transformadas em abrigos, centenas de pessoas que fugiram do hospital de al-Shifa para salvar as suas vidas, enquanto milhares de outras continuam a ser deslocadas no sul de Gaza, são ações que vão contra as proteções básicas que o direito internacional deve conceder aos civis", alertou Türk, num comunicado.
Estas declarações surgem numa altura em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) procura retirar os últimos doentes do hospital de al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza, que considera ter-se tornado uma "zona de morte".
O movimento islamita palestiniano Hamas afirmou também no sábado que os ataques israelitas ao campo de refugiados de Jabaliya, gerido pela ONU, no norte do território, mataram mais de 80 pessoas, incluindo pelo menos 50 numa escola que alberga pessoas deslocadas.
O Presidente do Parlamento Europeu, Hans-Gert Pöttering, considerou "horríveis" as imagens apresentadas do ataque israelita à escola de al-Fakhoura, gerida pela ONU no campo de Jabaliya, que "mostram claramente um grande número de mulheres, crianças e homens gravemente feridos ou mortos".
De acordo com Türk, pelo menos três outras escolas que albergam pessoas deslocadas foram atacadas nas últimas 48 horas.
"A dor, o horror e o medo nos rostos das crianças, das mulheres e dos homens são demasiado grandes para suportar", afirmou.
"A humanidade deve estar em primeiro lugar", continuou, sublinhando a necessidade absoluta de um cessar-fogo "agora".
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA) elevou para 104 o número de trabalhadores mortos pela ofensiva israelita contra a Faixa de Gaza, incluindo um morto por bombardeamento no sábado.
"No dia 18 de novembro, um colega da UNRWA no norte de Gaza foi morto por um bombardeamento israelita. No total, 104 colegas foram mortos desde o início da guerra", afirmou, antes de recordar que "este é o maior número de trabalhadores da ONU mortos num conflito na história".
De acordo com esta agência, nas últimas 24 horas, houve "múltiplos incidentes" que afetaram as instalações da UNRWA, e provocaram "mortos e feridos entre as pessoas deslocadas que se encontravam abrigadas nas instalações". "A UNRWA ainda está a tentar verificar o número de vítimas", referiu a agência.
Segundo este organismo, cerca de 1,7 milhões de palestinianos foram deslocados na Faixa de Gaza desde 07 de outubro, quando começou a ofensiva militar israelita na sequência de ataques do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas). Em 2022, segundo dados do CIA World Fact Book, a Faixa de Gaza tinha uma população de 2,4 milhões de pessoas.
Do total de pessoas deslocadas, cerca de 884 mil estão em 154 instalações da UNRWA na Faixa de Gaza, incluindo cerca de 724 mil em 97 instalações nas zonas do Centro, Khan Younis e Rafah, para onde Israel pediu às pessoas que se deslocassem a partir do norte.
"Cerca de 160 mil deslocados internos estavam abrigados em 57 escolas da UNRWA no norte e na cidade de Gaza desde 12 de outubro, antes da ordem de evacuação emitida pelas autoridades israelitas", refere o organismo.
A UNRWA alerta que "não teve acesso a estes abrigos para prestar assistência ou proteção a estas pessoas deslocadas, nem dispõe de informações sobre as suas necessidades ou condições".
A agência salientou que este novo montante "será utilizado em dois dias e cobre apenas metade das necessidades críticas diárias".
"O combustível é também fundamental para as redes de telecomunicações", explicou, depois de quatro bloqueios de comunicações terem impedido a circulação de camiões de ajuda a partir da passagem de Rafah.
Referiu ainda que um trabalhador da UNRWA foi brevemente detido na quinta-feira pelas forças de segurança israelitas durante uma operação de segurança no campo de refugiados de Farah, nos arredores de Nablus, enquanto mais de 1.600 estudantes de quatro escolas do campo de refugiados de Jenin "continuam a não poder aceder em segurança às instalações devido ao mau estado das estradas", por causa dos danos causados pelos bulldozers israelitas.