20 nov, 2023 - 16:27 • Lusa
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu esta segunda-feira que sejam tomadas de imediato "medidas espetaculares" para impedir um maior aquecimento global, quando o planeta caminha para os 2,9 ºC de aquecimento.
Falando na apresentação do mais recente relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP, na sigla original), António Guterres considerou que o fosso entre os compromissos dos países em reduzirem emissões de gases com efeito de estufa (GEE), e o necessário para respeitar os objetivos do Acordo de Paris, é "um fracasso de liderança, uma traição aos que são vulneráveis e uma imensa oportunidade perdida".
Segundo o relatório, com as medidas atuais o planeta caminha para um aumento de temperatura entre os 2,5°C e os 2,9 °C até final do século.
No Acordo de Paris, alcançado em 2015, os países comprometeram-se a tomar medidas para impedir que o aquecimento global ultrapasse 2°C em relação à época pré-industrial e que de preferência não vá além de 1,5°C. Desde então nas cimeiras da ONU nunca foi abandonada a meta de 1,5°C.
O relatório da ONU destaca que as emissões de GEE atingiram novos máximos, que continuam os recordes de temperaturas e que se intensificam os impactos climáticos.
Os especialistas avisam que nesta trajetória os aumentos de temperatura serão muito acima do assumido pelo que é preciso que os Estados façam muito mais do que prometeram.
Admitindo que se registaram progressos desde a assinatura do Acordo de Paris, os responsáveis pelo relatório salientam que as emissões de gases previstas para 2030 devem diminuir 28% para que o aumento de temperatura seja de 2°C, e diminuir 42% se o objetivo for impedir uma subida maior do que 1,5°C.
Na situação atual, aplicando os compromissos de cada país, os chamados "contributos nacionalmente determinados", para reduzir as emissões o mundo caminha para um aumento da temperatura que pode chegar a 2,9 °C, ou no mínimo a 2,5°C.
O novo relatório anual publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente mostra que, se não forem feitas mudanças, até 2030 o mundo produzirá 22 gigatoneladas de gases poluentes a mais do que os permitidos pelo Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global a 1,5 graus.
O ex-primeiro-ministro português lembrou que, só este ano, foram registados os meses mais quentes de junho, julho, agosto, setembro e outubro de que se tem registo.
"Tudo isto é uma falta de liderança, uma traição aos vulneráveis e uma enorme oportunidade perdida", lamentou Guterres.
No entanto, o secretário-geral quis lembrar que ainda é possível atingir o objetivo do Acordo de Paris, mas que para isso é fundamental eliminar os combustíveis fósseis, "a raiz envenenada da crise climática".
O planeta já está pelo menos 1,1 graus mais quente do que há 150 anos, mas, a partir dos 1,5 graus, a maioria dos cientistas estima que ocorrerão desastres ambientais - como ondas de calor extremo ou inundações - de forma muito mais intensa e com maior regularidade..
Por esta razão, Guterres apelou mais uma vez aos Governos, e particularmente aos dos países mais ricos e poluentes, a comprometerem-se a dar um impulso decisivo aos seus programas de transição energética que incluam a eliminação total dos combustíveis fósseis, e a financiar investimentos na adaptação para as comunidades mais vulneráveis ??aos efeitos das alterações climáticas.
No documento, apela-se às nações para que acelerem as transformações no sentido de um desenvolvimento com baixas emissões de GEE, e pede-se aos países mais ricos e maiores emissores para tomarem medidas mais ambiciosas e apoiarem os países em desenvolvimento.
António Guterres disse na apresentação do documento que é preciso triplicar as fontes de energia alternativa e levar energia limpa a todos.
O relatório da ONU é publicado poucos dias antes do início da 28.ª cimeira da ONU sobre o clima (COP28), que vai decorrer no Dubai entre 30 de novembro e 12 de dezembro.