10 dez, 2023 - 14:14 • Salomé Esteves
Narges Mohammadi foi agraciada com o Nobel da Paz "pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irão", a favor da democracia e contra a pena de morte.
Detida em Teerão, a ativista iraniana não pode estar presente na cerimónia de entrega, que decorreu este domingo em Oslo. Contudo, enviou uma mensagem escrita, por carta, que os filhos gémeos leram perante os presentes.
"Sou uma mulher iraniana orgulhosa e honrada por contribuir para uma civilização que hoje é vítima de um regime religioso, tirano e opressivo", leu Kiana Rahmani. Enquanto Ali, terminou a missiva com um apelo. "Chegou o momento da sociedade civil internacional de apoiar a sociedade ciil do Irão. Dedicarei todos os meus esforços a essa missão."
Nos seus discursos, ambos os filhos lamentaram a ausência da mãe, para quem foi reservada uma cadeira vazia. Ali Rahmani lembrou que apesar de o corpo da mãe "estar atrás das grades, a sua caneta e os seus pensamentos transbordaram as paredes e chegaram até nós". A irmã acrescentou que tem pouca esperança de voltar a ver a mãe, mas que "ela viverá sempre no meu coração e vale a pena lutar pelos seus valores".
Berit Reiss-Andersen, que lidera o Comité do Prémio Nobel reconheceu a influência de Narges Mohammadi e da atribuição do prémio nas "mulheres corajosas no Irão e por todo o mundo que lutam por direitos humanos básicos". E acrescentou: "Nenhum castigo a conseguiu parar".
No dia em que recebe o prémio, Narges Mohammadi entra novamente em greve de fome, depois de em novembro ter protestado, com o mesmo método, contra a falta de cuidados métodos na prisão. A ativista foi impedida de realizar uma consulta num hospital por se recusar a usar hijab.
Narges Mohammadi está agora a cumprir uma pena de 10 anos. Mas ativista e jornalista iraniana tem sido detida em várias prisões iranianas desde 2012 e não vê os filhos, atualmente exilados em Paris com o pai, há oito anos. O seu ativismo custou-lhe 13 detenções, cinco penas de 31 anos de prisão no total e 154 chicotadas.