29 dez, 2023 - 17:58 • Marta Pedreira Mixão , com agências
Pelo menos 30 pessoas morreram e 160 ficaram feridas esta sexta-feira nos ataques aéreos russos à Ucrânia, de acordo com o Ministério do Interior do país.
O ataque russo atingiu atingiu Kiev, Odesa, Dnipropetrovsk, Kharkiv e Lviv nas primeiras horas da manhã de sexta-feira.
A Rússia "utilizou quase todos os tipos de armas do seu arsenal", tendo atingido várias casas e uma maternidade, declarou o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
"Hoje, milhões de ucranianos acordaram com o som estridente de explosões. Gostaria que esses sons de explosões na Ucrânia pudessem ser ouvidos em todo o mundo", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, apelando aos aliados para que prossigam com a ajuda militar a longo prazo.
Um porta-voz da Força Aérea afirmou que a Rússia utilizou mísseis hipersónicos, de cruzeiro e balísticos, incluindo do tipo X-22, que são difíceis de intercetar. "Nunca vimos tantos alvos serem atingidos em simultâneo", acrescentou.
As autoridades afirmaram que mais de 10 drones Shahed de fabrico iraniano e 15 mísseis visaram a cidade ocidental de Lviv. A cidade de Konotop, na região de Sumy, perto da fronteira norte do país, também foi atingida por um míssil. As autoridades de Odesa afirmam que um edifício alto se incendiou depois de ter sido atingido por um drone. De acordo com a BBC, quatro pessoas morreram e 22 ficaram feridas, incluindo duas crianças de seis e oito anos.
O autarca de Kharkiv, Igor Terekhov, disse que três pessoas morreram e 13 ficaram feridas numa série de ataques à cidade que danificaram um hospital e edifícios residenciais.
O governador da região de Dnipropetrovsk afirmou que seis pessoas foram mortas e 28 ficaram feridas no que descreveu como uma "manhã trágica para a região". Serhiy Lysak afirmou que um centro comercial e uma maternidade foram alvo de ataques na capital regional de Dnipro. Em Zaporizhzhia, oito pessoas foram mortas na sequência de ataques a infraestruturas e 13 pessoas ficaram feridas.
Na capital, Kiev, pelo menos nove pessoas morreram e 30 ficaram feridas depois de um armazém, edifícios residenciais e outra propriedade desabitada terem sido atingidos, segundo as autoridades. Três hipóteses para a guerra na Ucrânia em 2024
O Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano afirmou que o vasto ataque aéreo de fim de ano mostra que "não se deve falar de tréguas" com a Rússia, numa altura em que paira a incerteza sobre o futuro do apoio ocidental a Kiev.
O ataque foi considerado "um dos maiores ataques com mísseis a cidades e aldeias ucranianas" desde que a Rússia lançou a sua invasão em fevereiro de 2022, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
A Polónia, membro da NATO, afirmou que um míssil russo parece ter entrado no seu espaço aéreo durante cerca de 40 quilómetros, antes de regressar à Ucrânia menos de três minutos depois. Moscovo não fez qualquer comentário imediato e a NATO afirmou manter-se "vigilante".
"A Rússia atacou com tudo o que tem no seu arsenal. Foram disparados cerca de 110 mísseis, a maioria dos quais foram abatidos", declarou o Presidente Volodymyr Zelenskiy no Telegram.
Segundo a Reuters, a força aérea ucraniana afirmou ter abatido 87 mísseis de cruzeiro e 27 drones, de um total de 158 "alvos" aéreos disparados pela Rússia.
O chefe do exército, general Valeriy Zaluzhnyi, afirmou que o ataque tinha como alvo infraestruturas críticas e instalações industriais e militares.
Há semanas que a Ucrânia tem vindo a alertar para a possibilidade de a Rússia estar a armazenar mísseis para lançar um grande ataque aéreo contra o sistema energético. No inverno passado, milhões de pessoas ficaram mergulhadas na escuridão quando os ataques russos atingiram a rede elétrica.
"É óbvio que, com as reservas de mísseis de que dispõe o Estado agressor, pode e vai continuar a fazer tais ataques", afirmou no Facebook o ministro ucraniano da Defesa, Rustem Umerov.
Num resumo das atividades militares russas esta semana, o ministério da defesa russo afirmou que suas forças realizaram um ataque "massivo" na Ucrânia desde 23 de dezembro, sem fornecer outros detalhes.
Os líderes mundiais reagiram aos ataques desta sexta-feira, com o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak a escrever no X, antigo Twitter, que os ataques "mostram que Putin não vai parar por nada para atingir o seu objetivo de erradicar a liberdade e a democracia".
O Ministério dos Negócios Estrangeiros francês condenou a "estratégia de terror" da Rússia, que, segundo um comunicado, "visa destruir as infraestruturas civis ucranianas para enfraquecer a capacidade de resistência da população ucraniana".
Já o chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell, criticou "mais um ataque cobarde e indiscriminado contra escolas, uma estação de metro e um hospital".
O Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão afirmou que, apesar de "a Rússia estar mais uma vez a espalhar o terror", a Alemanha "não se afastará um milímetro" do apoio à Ucrânia.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, também já se manifestou e afirmou que o último ataque da Rússia é um "lembrete claro para o mundo de que, após quase dois anos desta guerra devastadora, o objetivo de Putin permanece inalterado".
Numa declaração, Biden apela ao Congresso para que "se apresse e atue sem mais demoras".
A Casa Branca aprovou esta semana mais 250 milhões de dólares (cerca de 226,2 euros) de ajuda militar dos EUA à Ucrânia, mas é o último financiamento disponível sem uma nova aprovação do Congresso.
"A menos que o Congresso tome medidas urgentes no novo ano, não poderemos continuar a enviar as armas e os sistemas vitais de defesa aérea de que a Ucrânia necessita para proteger o seu povo", afirmou Biden. "Não podemos desiludir a Ucrânia. A História julgará severamente aqueles que não responderem ao apelo da liberdade."