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Outro caso com gémeas. Vendidas à nascença, o TikTok ajudou a reencontrarem-se

26 jan, 2024 - 12:50 • João Malheiro

Milhares de recém-nascidos da Geórgia foram vendidos, ao longo de décadas. Desde 2005, a Geórgia endureceu a sua lei de adoção e tomou medidas para impedir este tráfico.

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Amy e Ano são irmãs gémeas que não cresceram juntas. Pouco depois de terem nascido, foram separadas da sua mãe e vendidas a famílias distintas. Anos mais tarde, descobriram-se graças a um programa de televisão... e ao TikTok.

A BBC conta que este é apenas um exemplo de milhares de crianças na Geórgia que foram levadas diretamente dos hospitais e vendidas, ao longo de décadas. Até hoje, ninguém foi alguma vez acusado de nenhum crime associado a esta prática.

Amy Khvitia tinha 12 anos quando, ao ver o Georgia's Got Talent, reparou que uma rapariga que estava a atuar era praticamente idêntica a ela. À BBC, relata o insólito da mãe adotiva receber chamadas de conhecidos a perguntar porque é que a filha estava a atuar na televisão com outro nome.

Sete anos depois, esse episódio não era mais do que isso. Um acaso sem explicação. A verdade é que a dançarina era Ano Sartania que, na altura, não sabia que a irmã gémea a estava a ver pela televisão.

No entanto, em 2021, uma amiga de Ano, agora com 19 anos, manda-lhe um vídeo. Era um TikTok de uma rapariga de cabelo pintado de azul a fazer um piercing na sobrancelha. Na altura, a jovem diz à BBC, achou "fixe que ela fosse parecida comigo".

Depois de ter mostrado o vídeo a várias pessoas, um amigo mútuo de Ano e Amy ajudou-as a conectar-se através do Facebook. Amy refere que sabia logo que Ano era a rapariga que ela tinha visto na televisão.

Descobriram rapidamente muitas semelhanças, como terem nascido no mesmo hospital, gosto pela música e dança, penteados semelhantes e, talvez o mais cientificamente relevante, a mesma doença genética: displasia.

Quando se conheceram em pessoa, descrevem que sentiram a sensação de se estarem a ver ao espelho. Quando confrontaram as suas famílias adotivas com o que tinha descoberto, finalmente ficaram a saber a verdade.

Os pais adotivos de ambas não sabiam que havia uma gémea e, alegam, não sabiam que o que tinham feito era ilegal. As famílias recusaram-se a dizer à BBC quanto gastaram para adotar as crianças.

Havia mais uma irmã

Ano e Amy decidiram começar a pesquisar por grupos de outros georgianos que viveram experiências semelhantes, nas redes sociais, com o objetivo de encontrar a mãe que nunca tinham conhecido.

Eventualmente, no Facebook, descobriram outra pessoa: mais uma irmã. Era uma jovem que tinha dito que a sua mãe tinha dado à luz gémeas, em 2002.

Depois de testes de ADN, ficou confirmado a ligação entre as duas gémeas e a nova rapariga que tinham conhecido online.

E foi aí que souberam que a jovem vivia com a sua mãe biológica, na Alemanha.

Finalmente, passado muito tempo à procura, as gémeas conheceram a sua verdadeira mãe, Aza, e conversaram sobre tudo o que tinha acontecido.

A BBC indica que a mãe terá ficado em coma, depois de ter dado à luz e que, quando acordou, os profissionais de saúde do hospital alegaram que as filhas tinham morrido.

As jovens têm mantido o contacto com a mãe desde o seu encontro, mas admitem que não são próximas.

"Um problema sistémico"

A jornalista Tamuna Museridze criou o grupo de Facebook chamado Vedzeb (À Procura, em português), que Ano e Amy usaram para conhecer a mãe.

À BBC, refere que decidiu tomar a iniciativa depois de também ter descoberto que tinha sido adotada. O grupo conta com mais de 230 mil membros que partilham experiências semelhantes.

De acordo com a sua investigação, Museridze aponta que havia redes no mercado negro da Geórgia que vendiam bebés desde os anos 50, até pelo menos 2005.

"Até 100 mil bebés foram roubados. Era um problema sistémico", afirma.

Desde 2005, a Geórgia endureceu a sua lei de adoção e tomou medidas para impedir o tráfico de crianças recém-nascidas.

O governo da Geórgia informa que já falou com mais de 40 pessoas, desde que começou a investigar o histórico desta prática, desde 2022, mas que a maioria dos casos "têm dados velhos que foram perdidos".

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