30 jan, 2024 - 08:45 • Lusa
O grupo terrorista Estado Islâmico anunciou esta terça-feira que está em curso uma "viagem de pregação" no norte de Moçambique, onde se multiplicam notícias de contactos entre insurgentes e a população nas últimas semanas.
A informação foi divulgada pelos canais de propaganda do grupo, que acusa ainda o Exército moçambicano de "massacres contra muçulmanos" na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
Populares de Mucojo disseram em 23 de janeiro à Lusa que aquele posto administrativo em Cabo Delgado está controlado por um grupo de terroristas.
"Mucojo está nas mãos dos terroristas desde domingo [21 de janeiro], mas a população continua no mesmo espaço. Eles disseram à população para não se preocupar, pois só querem confrontar os militares", disse à Lusa, sob anonimato, um dos populares.
O posto administrativo de Mucojo, no distrito de Macomia, dista 40 quilómetros da sede distrital e desempenha um papel importante na região, por ser ponto de saída do pescado, tendo sido palco de diversos confrontos com os militares nas últimas semanas.
Já este sábado, pelo menos uma pessoa morreu após ser decapitada na comunidade de Pulo, no distrito de Metuge, pelos grupos terroristas que atuam na província de Cabo Delgado, disseram à Lusa fontes locais.
"Isso aconteceu durante a noite, os terroristas interpelaram a vítima na sua 'machamba' [campo agrícola] e depois decapitaram-na", declarou um vizinho da vítima.
Após notar a presença dos rebeldes, algumas pessoas decidiram abandonar a área, tendo-se refugiado na sede distrital de Metuge.
"A minha família e eu saímos da 'machamba', a situação não está boa", afirmou uma residente local, mãe de sete filhos.
O novo óbito e a "movimentação de terroristas" na região foi também confirmada pelo administrador distrital de Metuge, Salésio Manuel Paulo.
A incursão de rebeldes em Metuge, a menos de 40 quilómetros da capital da província, Pemba, gerou alguma agitação no distrito, que acolhe o principal centro de acolhimento de deslocados devido aos ataques rebeldes em Cabo Delgado.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, visitou na sexta-feira uma posição da Força de Intervenção Rápida no distrito de Metuge, reconhecendo que os terroristas tentam agora "outras formas de desestabilização".
No mesmo dia, um grupo de quase 50 terroristas foi visto pelas populações a atravessar a estrada Nacional 1, entre as aldeias Nanlia e Impriri, no distrito de Metuge, disse à Lusa um líder comunitário, com fontes locais a suspeitarem que o grupo se dirigia à vizinha província de Nampula, alegadamente para recrutar novos membros.
A movimentação dos grupos terroristas nos últimos dias também foi observada no distrito de Quissanga, perto dos campos de produção agrícola junto ao distrito de Metuge, criando pânico e levando as populações de Nampipi a abandonar as atividades.
Líderes locais e populares admitem que a movimentação dos terroristas esteja ligada à perseguição imposta pelas Forças de Defesa e Segurança nos distritos de Macomia, Quissanga e Muidumbe.
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, libertando distritos junto aos projetos de gás natural.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.