31 jan, 2024 - 00:11 • Lusa
Membros de uma banda de rock que tem criticado o presidente russo, Vladimir Putin, a guerra de Moscovo na Ucrânia permanecem numa prisão de imigração tailandesa, temendo ser deportados para a Rússia, quando um alegado voo para um local seguro em Israel foi suspenso.
A banda bielorussa de rock progressivo Bi-2 referiu na rede social Facebook que tinha informações de que a intervenção de diplomatas russos fez com que o plano fosse frustrado, apesar de as passagens já terem sido compradas para o voo.
"Os elementos do grupo permanecem detidos no centro de imigração, numa cela partilhada com 80 pessoas", afirma-se na publicação, acrescentando que se recusaram a encontrar-se com o cônsul russo.
A agência de notícias russa Ria Novosti disse que a recusa foi confirmada por Ilya Ilyin, chefe da seção consular da embaixada russa.
O grupo informou mais tarde na plataforma Telegram que o seu cantor, Yegor Bortnik, com o nome artístico Lyova, estava no aeroporto a aguardar um voo para Israel, mas os outros membros permanecem na prisão.
Os sete membros da banda foram presos na quinta-feira passada após um concerto na ilha turística de Phuket, no sul, supostamente por não terem documentos de trabalho adequados. No Facebook, disseram que todos os seus "shows" se realizam "de acordo com as leis e práticas locais".
Phuket é um destino popular para expatriados e turistas russos. Depois de pagar uma multa, os membros da banda foram enviados para o Centro de Detenção de Imigração, em Banguecoque.
Os músicos detidos "incluem cidadãos russos, bem como cidadãos com dupla nacionalidade da Rússia e de outros países, incluindo Israel e Austrália", afirmou a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW), num comunicado. Acredita-se que os detidos que possuem apenas a cidadania russa são os que correm maior risco.
"As autoridades tailandesas deveriam libertar imediatamente os membros detidos do Bi-2 e permitir-lhes seguir o seu caminho", disse Elaine Pearson, diretora para a Ásia da HRW, citada pela agência Associated Press (AP).
A mesma fonte considerou que "em nenhuma circunstância deveriam ser deportados para a Rússia, onde poderiam ser presos ou pior, pelas suas críticas francas ao Presidente russo, Vladimir Putin, e à guerra da Rússia na Ucrânia".
"Não se sabe se as autoridades russas procuraram o regresso forçado dos membros da banda à Rússia", disse a organização. E salientou: "No entanto, num contexto de repressão na Rússia que atingiu novos patamares, as autoridades russas usaram a repressão transnacional - abusos cometidos contra nacionais fora da jurisdição do Governo - para atingir ativistas e críticos do Governo no estrangeiro com violência e outras ações ilegais".
O político da oposição russa autoexilado e amigo do Bi-2, Dmitry Gudkov, disse à AP que esteve em contacto com advogados e diplomatas na tentativa de garantir a libertação da banda e sugeriu que a pressão para detê-los e deportá-los veio diretamente do Kremlin e do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
A Rússia, considerou Gudkov, precisa de uma "história evocativa para mostrar que irá apanhar qualquer crítico no estrangeiro".
"Tudo isto está a acontecer no período que antecede [as eleições presidenciais da Rússia], e é claro que eles querem calar toda a gente, e é por isso que há uma pressão intensa", frisou.
O embaixador da Rússia na Tailândia, Yevgeny Tomikhin, disse que os diplomatas russos não eram responsáveis pela detenção do grupo.
"Não é nossa prática impor a nossa vontade a ninguém. Os americanos podem fazer isso. Não nos comportamos assim e não fazemos tais pedidos", disse Tomikhin, ao jornal Komsomolskaya Pravda.
Não houve declarações públicas de autoridades tailandesas sobre a situação.
A banda Bi-2 tem 1,01 milhões de assinantes no seu canal no YouTube e 376 mil ouvintes mensais na plataforma de "streaming" de música Spotify.
Andrei Lugovoi, membro da câmara baixa do parlamento russo, chamou aos membros da banda "escória" pelas suas críticas às operações militares da Rússia na Ucrânia.
"Eles que se prepararem: em breve estarão tocando e cantando com colheres e pratos de metal, sapateando em frente dos companheiros de cela", disse Lugovoi, no Telegram, assegurando: "Pessoalmente, ficaria muito feliz em ver isso".
A Grã-Bretanha acusou Lugovoi de envolvimento na morte do ex-espião russo Alexander Litvinenko, que morreu em Londres em 2006 após ser envenenado com chá misturado com polónio-210, substância radioativa extremamente tóxica.