10 fev, 2024 - 11:04 • Lusa
Os estrategos do Presidente dos EUA, Joe Biden, estão a rever os planos para a sua campanha de reeleição, perante fracas prestações nas sondagens e crescentes preocupações com a sua acuidade mental.
Esta semana, um procurador especial - que investigou o caso dos documentos confidenciais guardados irregularmente por Biden nas suas residências -- apresentou um relatório em que retrata o Presidente como "um idoso, bem-intencionado, com uma má memória".
O relatório ilibou Biden de responsabilidades, mas tocou no ponto mais delicado do candidato democrata a um segundo mandato, depois de as sondagens terem indicado que a maioria dos norte-americanos considera Biden, de 81 anos, como demasiado velho para continuar na Casa Branca.
Horas depois de o relatório do procurador especial ter sido conhecido, Biden apareceu numa conferência de imprensa indignado com a forma como tinha sido retratado, especialmente por o documento revelar que, durante o interrogatório da investigação, não fora capaz de se lembrar da data da morte do seu próprio filho (vítima de um cancro, em 2015).
Mas muito antes deste relatório, os estrategos de Biden já tinham decidido abandonar o plano inicial de campanha -- que, basicamente, determinava uma abordagem relaxada, à semelhança de outras candidaturas de um incumbente -- e refazer a estratégia para tentar evitar uma vitória de Donald Trump, o cada vez mais provável candidato republicano.
O novo 'playbook' (livro de regras) de Biden aposta em multiplicar exponencialmente o número de iniciativas de campanha, de pequena dimensão, como visitas a feiras e escolas, reuniões com pequenos grupos de profissionais de diferentes áreas; aumentar a visibilidade do Presidente nas redes sociais; e evitar aparições em grandes comícios ou grandes eventos.
"Temos de ir aos lugares onde as pessoas estão", explicou o vice-diretor de campanha, Rob Flaherty, lembrando que o candidato democrata precisa de melhorar o seu índice de aceitação junto do eleitorado mais jovem e o das minorias.
Em final de janeiro, os colaboradores de Biden gravaram em vídeo uma visita de Biden em Raleigh, Carolina do Norte, onde o Presidente foi comprar hambúrgueres para os partilhar com um grupo de pessoas na casa de um habitante da cidade.
O vídeo daquela singela refeição e conversa foi partilhado na rede social TikTok e rapidamente atraiu milhões de visualizações, provando que este género de divulgação de atividade política passou a ser um veículo privilegiado de cativar votos, na era da comunicação digital.
Os estrategos decidiram assumir que Biden é um orador mediano e que a sua avançada idade está a tornar a sua presença em grandes eventos e comícios cada vez mais um risco que a sua candidatura não se pode dar ao luxo de correr, num tempo em que qualquer falha ou 'gaffe' se pode tornar viral nas redes sociais.
Em várias ocasiões, Biden tem dado provas de cometer falhas nos seus discursos, trocando nomes e datas e recorrendo a longas pausas que tornam as suas aparições um frequente embaraço.
Na conferência de imprensa desta semana, para comentar o relatório do procurador especial, Biden aproveitou para comentar a situação no Médio Oriente e acabou a confundir o Presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, referindo-se a ele como Presidente do México.
Por isso, no novo 'playbook' os estrategos vão tentar evitar as conferências de imprensa e apostar em visitas como aquela que Biden realizou recentemente em Emmaus, no estado da Pensilvânia, onde mostrou uma inegável eficácia a conversar com os trabalhadores, tirando proveito da sua proverbial capacidade de criar empatia no contacto interindividual.
Conselheiros de Biden admitiram nas últimas semanas que a campanha do Presidente vai tentar apostar em apresentar o candidato democrata como um experiente homem de Estado, com provas dadas, para o contrastar com a figura de Trump, que tentam apresentar como um empresário sem escrúpulos e que constitui uma ameaça para a democracia.
"Cada vez que Biden conversa com um eleitor na rua, em ambiente descontraído e sem a pressão dos grandes comícios, essa imagem de alguém que é um de nós emerge e cativa", confessou Flaherty.
"Neste momento, Biden está a lutar pela atenção das pessoas. Ele não está apenas a combater Donald Trump", reconheceu outro estratego democrata, Teddy Goff, veterano das campanhas eleitorais do ex-Presidente Barack Obama.
Para Goff, as redes sociais e os contactos de rua podem ser os melhores aliados de Biden para recuperar de baixos índices de popularidade, mas também para ocupar um espaço que até agora era o "recreio de Trump".