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Quem era Alexei Navalny, o homem que deu muitas dores de cabeça a Putin

16 fev, 2024 - 11:51 • Redação com Reuters e Lusa

Foi um dos maiores e mais famosos críticos de Kremlin. Esteve meses a ser tratado em Berlim por causa dos efeitos de envenenamento com a neurotoxina Novichok. Apesar dos riscos de detenção, voltou para a sua pátria e foi condenado. Acabou por morrer na prisão, esta sexta-feira.

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Alexei Navalny foi, durante muito tempo, o crítico mais notório do Governo de Vladimir Putin, na Rússia. Foi alvo de uma tentativa de envenenamento em 2020, mas sobreviveu e regressou do tratamento, na Alemanha para o país que o viu nascer, ciente dos riscos. Esteve em detenção enquanto aguardava julgamento, acabou condenado, esteve desaparecido e reapareceu numa prisão da Sibéria. Acabou por morrer, esta sexta-feira, nessa mesma prisão, alegadamente após uma caminhada.

Como é que se tornou conhecido?

Navalny, 47 anos, era conhecido pelas suas investigações sobre casos de corrupção, que eram depois transmitidas no seu canal de YouTube e vistos por milhões de pessoas. Entre os seus apoiantes tornou-se já comum referir-se ao partido Rússia Unida, de Putin, com o termo com o qual o batizou, “o partido dos corruptos e dos ladrões”.

Chegou a fazer parte do partido liberal Yabloko, da oposição, mas as suas posições consideradas demasiado nacionalistas e a sua defesa de restrições à imigração levaram à sua expulsão em 2007.

Em 2011, quando se registaram protestos depois de uma eleição considerada fraudulenta pela oposição, foi um dos primeiros líderes dos manifestantes a ser detido.

Tinha atividade política recentemente?

Em 2013 candidatou-se pela oposição à presidência da Câmara de Moscovo, tendo recebido 27% dos votos, apesar de praticamente não ter recebido cobertura dos media estatais, mas acabou por perder para Sergei Sobyanin, que tinha o apoio do Governo.

Desde então foi impedido de se candidatar a cargos políticos por uma série de razões, que afirmava serem empoladas pelo Kremlin. Sem o palco da política, usava as suas redes sociais para mobilizar os seus muitos seguidores, na maioria jovens.

Segundo a Reuters, Putin e o Kremlin fazem questão de nunca pronunciar o seu nome.

Porque é que foi detido?

Navalny foi detido diversas vezes por organizar manifestações públicas e julgado repetidamente por acusações que afirma serem de natureza política.

Em 2013 foi condenado a cinco anos por corrupção mas a sentença acabou por ser suspensa após recurso. Em 2014 recebeu nova sentença, também suspensa, de três anos e meio por desvio de fundos. Tinha sido novamente detido por alegadamente violar os termos da sentença de 2014 e acabou por ser condenado, mais tarde.

Navalny já não saiu da Sibéria: morreu o maior opositor de Putin
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Como foi tratado?

Em 2016 Navalny e os seus apoiantes foram atacados fisicamente por vários homens quando visitavam o sul da Rússia. Em 2017 foi atacado duas vezes e uma delas ficou temporariamente cego de um olho depois de lhe ter sido lançado uma tinta verde antissética à cara.

Em agosto de 2020, no regresso de uma viagem à Sibéria, Navalny sentiu-se indisposto, obrigando o piloto a fazer uma aterragem de emergência, sem a qual teria certamente morrido. Foi transportado para Berlim, onde recebeu tratamento contra uma neurotoxina identificada como Novichok, um veneno desenvolvido na União Soviética.

Uma investigação levada a cabo por vários meios de comunicação social afirmou ter identificado uma equipa de assassinos dos FSB, os serviços secretos da Rússia, herdeiros da KGB. Confrontado com este facto Putin descartou a informação dizendo que “se alguém o quisesse envenenar tinham acabado com ele”.

Onde estava agora?

A proeminente figura da oposição russa está, de facto, a cumprir pena de prisão por atividades alegadamente extremistas: o Fundo Anticorrupção, estrutura fundada por Alexei Navalny e ilegalizada pelas autoridades russas em 2021, era assim considerada.

Depois de ter sido oficialmente condenado em agosto de 2023 a 19 anos, Navalny estava a cumprir pena por diversos crimes (o que chegaria aos 30 anos) numa prisão remota na região ártica da Rússia, de onde apelou a um protesto contra o Presidente russo, Vladimir Putin, nas assembleias de voto do país nas próximas eleições presidenciais, que decorrem entre 15 e 17 de março.

Antes disso, esteve desaparecido algum tempo. Os seus advogados perderam o contacto com ele no início de dezembro de 2023. Mais tarde, foi anunciado que tinha sido transferido para uma colónia de "regime especial", uma categoria de estabelecimentos onde as condições de detenção são as mais duras. São normalmente reservadas a presos a cumprir pena de prisão perpétua e aos detidos mais perigosos.

"Não se preocupem comigo. Estou bem"

"Não se preocupem comigo. Estou bem",disse, na altura, a partir de Kharp.

Kharp, uma pequena cidade com uma população de cerca de 5.000 habitantes, situa-se em Yamalo-Nenetsia, uma região remota do norte da Rússia, a norte do Círculo Polar Ártico, e alberga várias colónias penitenciárias.

Numa das últimas vezes que comunicou com o exterior, via X (antigo Twitter), Navalny relatou que era obrigado a ouvir música pop pró-Putin todos os dias, na prisão, pelas cinco da manhã.

Numa mensagem na rede social, o ativista e antigo candidato contra Putin descreve que todos os prisioneiros são obrigados a acordar para ouvir, em primeiro lugar, o hino nacional russo e, depois, a canção "I Am Russian", do artista Shaman.

Estava preso há cerca de três anos, numa prisão perto do Ártico, e estava sentenciado a continuar preso até aos 74 anos.

Formado em Direito e Finanças

Navalny nasceu a 4 de junho de 1976 e cresceu a cerca de 100 km de Moscovo, em Obninsk. Formado em Direito, passou algum tempo nos Estados Unidos, ligado à Universidade de Yale.

Também tinha o curso de Finanças e comprou participações em algumas das maiores empresas da Rússia por forma a ter acesso aos seus relatórios financeiros para poder exigir maior transparência.

Casado com Yulia Navalnaya, Navalny deixa um filho e uma filha.

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