11 mar, 2024 - 21:58 • Alexandre Abrantes Neves
O diretor para os oceanos e recursos naturais da Commonwealth afirmou, esta segunda-feira, que os desafios relacionados com a saúde oceânica só podem ser ultrapassados se o Sul Global, as comunidades indígenas e as mulheres forem incluídas na discussão.
Num painel à margem da Conferência Mundial dos Oceanos, que decorre até quarta-feira no Centro de Congressos de Lisboa, Nicholas Hardman-Mountford relembrou que a maior parte dos oceanólogos estão nos Estados Unidos e na Europa e que “as mulheres recebem menos bolsas de investigação e estão em menos comités de decisão”.
Para o especialista, esta situação pode implicar perda de conhecimento em certos pontos do globo, nomeadamente onde as comunidades indígenas são as dominantes. Por isso, a Commonwealth “tem procurado soluções, como os sensores ‘low-cost’ que foram enviados para países no Pacífico para monitorizar a acidez dos oceanos”.
No palco estava também o diretor do Observatório Brasileiro para as Política Marítimas. André Beirão acrescentou que, para haver uma solução, políticos, investigadores e indústria têm de se entender no diálogo.
“O diálogo entre a ciência dura dos cientistas e a governação política não é assim tão fácil. Cada um deles pensa que pode resolver o problema. Mas têm de trabalhar em conjunto. E temos de apontar um terceiro aspeto – a indústria. Não querem falar de políticas se não lhes derem dinheiro”, detalha.
Que a Inteligência Artificial (IA) traz inúmeros desafios não é novidade. Mas, para o co-CEO da empresa de navios OceanX, Vincent Pieribone, o “assustador” da IA só pode ser ultrapassado com mais cooperação entre empresas e academia, que têm as competências necessárias para colocar os limites à utilização desta tecnologia.
Noutro painel da Conferência Mundial dos Oceanos, este responsável sublinhou que as ferramentas tecnológicas que permitem estudar a biodiversidade acarretam consequências que só podem ser previstas e reguladas com conhecimento aprofundado de quem domina o tema – mas aleta que nem todos os jovens a sair da faculdade se interessam pela indústria.
“Para as escolas de ponta, há indústrias que pagam muito melhor e os jovens simplesmente vão – relacionadas com a banca, medicina ou o setor farmacêutico… Estas indústrias estão a apostar em engenheiros informáticos porque é poderoso. Adorava conseguir contratar especialistas e encontrar pessoas apaixonadas pelo nosso tema”, remata.