14 abr, 2024 - 10:16
Cinco anos depois do incêndio que devastou a catedral Notre-Dame de Paris, os principais desafios da reconstrução foram ultrapassados, estando a reabertura prevista para 8 de dezembro.
Foi em 15 de abril de 2019 que um incêndio devastou a catedral parisiense, símbolo do cristianismo e classificada Património Mundial da Unesco, que acolhia 12 milhões de visitantes por ano, com as chamas a provocarem o colapso da torre e de parte do telhado.
Sob liderança de Philippe Jost, responsável pela obra desde a morte do general Jean-Louis Georgelin, cerca de 250 empresas e centenas de artesãos, arquitetos e profissionais trabalharam neste projeto para permitir a reabertura da obra-prima da arte gótica, que poderá ter a presença do Papa Francisco a convite do Presidente francês, Emmanuel Macron.
Após o incêndio, toneladas de entulho (madeira carbonizada e pedras) foram removidas do local antes do início das obras de reconstrução.
“Utilizámos robôs porque não conseguíamos penetrar nas abóbadas”, recordou Jost, referindo que “a fase de segurança durou mais de dois anos”, um trabalho moroso pelo risco de desabamento das abóbadas e pela remoção de 450 toneladas de chumbo parcialmente vaporizado.
Durante esta “grande etapa”, concluída no verão de 2021 com um custo de 150 milhões de euros, foi desmontado um andaime exterior que rodeava a torre com 40.000 tubos retorcidos e carbonizados.
A fase de reconstrução da catedral só começou no outono de 2021, após sucessivos atrasos devido à pandemia da covid-19 e a escavações arqueológicas.
Entre os desafios técnicos, o responsável pelo restauro citou as estruturas da nave, do coro e do pináculo, que foram reconstruídas de forma idêntica em carvalho maciço, utilizando mais de mil árvores de duzentos anos especialmente selecionadas nas florestas francesas.
Entre os “grandes momentos”, Jost citou “abril de 2023, quando os pedreiros fecharam a grande brecha na abóbada da nave” e quando “o pináculo reapareceu para todos verem” em fevereiro de 2024.
Também a torre, idêntica à do arquiteto do século XIX Viollet-le-Duc, recuperou algumas das suas coberturas e ornamentos em chumbo, bem como a cruz e o galo, um dos símbolos da capital francesa, desenhado por Philippe Villeneuve, arquiteto-chefe dos monumentos históricos.
O orçamento global para esta fase de reconstrução deverá manter-se “abaixo” dos 550 milhões de euros inicialmente previstos, afirmou Jost.
Dos 846 milhões de euros recolhidos em donativos por todo o mundo, cerca de 150 milhões serão utilizados para restaurar as partes exteriores da catedral, que estavam muito corroídas e afetadas por várias patologias da pedra antes do incêndio.
No interior de Notre-Dame, a fase de limpeza e decoração está quase concluída.
Os pavimentos em xadrez preto e branco ainda estão a ser colocados, tal como a instalação redesenhada do equipamento técnico e elétrico e um sistema inovador de combate a incêndios, segundo Jost.
A diocese optou por limpar o eixo central da catedral e por um novo mobiliário litúrgico em bronze castanho, com 1.500 cadeiras.
Os vitrais, entre os quais três grandes rosáceas medievais, não foram danificados pelo incêndio, tendo sido todos limpos.
O grande órgão, o maior de França, resistiu ao incêndio, mas devido ao pó de chumbo os seus 8.000 tubos tiveram de ser limpos e remontados. A harmonização deverá demorar seis meses para restaurar a “voz” de Notre-Dame.
Até ao verão, deverão estar concluídas as coberturas da nave, do coro e do pináculo, o restauro dos pavimentos e os trabalhos no mobiliário artístico interior.
A partir do outono, o átrio e as vias de acesso serão limpos e reestruturados em colaboração com a cidade de Paris, responsável pela reestruturação da zona envolvente, que deverá estar rodeada de vegetação até 2028.