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Pandemia prejudicou hábitos alimentares e bem-estar psicossocial das crianças

23 abr, 2024 - 10:30 • Miguel Marques Ribeiro com Redação

Um estudo realizado a nível europeu avaliou o impacto da pandemia COVID-19 e detetou “um aumento substancial dos comportamentos sedentários” e dos sentimentos de tristeza e solidão nos mais novos.

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Um estudo europeu da Organização Mundial da Saúde (OMS), coordenado cientificamente pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), concluiu que o bem-estar psicossocial das crianças piorou em diversos aspetos durante a pandemia.

Na pesquisa, que é esta terça-feira apresentada em Lisboa, foram avaliados diversos indicadores em 17 Estados-membros da região europeia da OMS, incluindo Portugal.

A “capacidade das crianças se divertiram com os amigos” piorou em 42% dos casos, a da criança “desfrutar de atividades no tempo livre” decaiu 27% e quanto às condições para “ter tempo suficiente para si própria”, a redução foi de 19%.

Globalmente, as crianças sentiram-se mais tristes e mais sozinhas. “A perceção dos pais de tristeza e de solidão das suas crianças foi igualmente mais frequente no período pandémico para uma em cada cinco crianças”, refere o documento.

Em entrevista à Renascença, a coordenadora do estudo, a investigadora do INSA Ana Rito admite que se registaram “momentos de mais isolamento, menos relação e gosto de estar na escola, menos relação com os seus pares”.

Com a implementação das medidas restritivas, uma em cada quatro crianças passou menos tempo a brincar do que era habitual. Em sentido oposto, houve um “aumento substancial dos comportamentos sedentários”.

Duas em cada cinco crianças aumentaram o tempo gasto em frente a ecrãs (televisão, videojogos e redes socias), enquanto um terço das crianças “aumentou o tempo consumido na aprendizagem em casa (incluindo a “telescola”) em mais de três horas por dia”, refere uma síntese da investigação a que a Renascença teve acesso.

Obesidade infantil sofre incremento

A alteração dos hábitos alimentares foi outra das consequências da implementação das medidas de contenção do vírus: “embora alimentos como a fruta (10,3%), hortícolas (7,0%) e lacticínios (10,8%) tenham sido consumidos com maior frequência durante a pandemia, aproximadamente uma em cada cinco das famílias relatou que os seus filhos começaram a consumir mais snacks salgados e doces como rebuçados, gomas, bolos, gelados”, diz o estudo.

Neste âmbito, Ana Rito sublinha que “a trajetória feliz que nós observámos entre 2008 e 2019 se reverteu em 2022”. A investigadora admite que “houve de facto um ligeiro aumento” da obesidade, “sendo que continuamos com uma em cada 3 crianças com excesso de peso infantil”.

Outro dos ângulos adotados pelos pesquisadores está relacionado com o nível socioeconómico das famílias. O estudo concluiu que “as dificuldades financeiras das famílias europeias aumentaram durante a pandemia”, com um número crescente de agregados a admitir “ter dificuldade em chegar ao fim do mês sem grandes problemas financeiros”. No caso de Portugal, 11,4% das famílias afirmaram que a sua situação financeira piorou durante a pandemia.

Ainda assim, o relatório aponta para a existência de efeitos positivos da pandemia nos hábitos das crianças entre os seis e os dez anos, nomeadamente a existência de uma “uma melhoria de vários comportamentos familiares, como “a “partilha das refeições em família” (29%), “preparar refeições em conjunto com a criança” (30%) e “compra de alimentos em grandes quantidades” (28%), em vez da ida ao supermercado”.

Necessidade de conhecer a situação real destas crianças

A coordenadora da pesquisa, Ana Rito admite que é necessário fazer uma reflexão para o futuro. ”Estas crianças que tinham 6 e 10 anos, hoje têm 10 e 14. É este o momento para nós equacionarmos qual é a sua relação com os seus pares, qual é a sua relação com a sua família, qual é a relação com a escola”, concluiu a investigadora do INSA.

No período de 2020 a 2022, 22% das crianças, 30% das mães e 26% dos pais testaram positivo para a COVID-19 em todos os países Europeus. Destaca-se que em Portugal, esta prevalência foi bem maior, já que 55,3% das crianças testaram positivo para COVID-19 e ficaram em isolamento domiciliário.

O estudo realizado na região europeia da Organização Mundial da Saúde (OMS), e que foi coordenado cientificamente pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), teve como objetivo conhecer e compreender o impacto da pandemia COVID-19 (2020-2022) com base na perceção dos pais/encarregados de educação em relação a seis dimensões: Consumo alimentar; Comportamentos familiares; Atividade física e comportamentos sedentários; Características do ambiente familiar; Estado nutricional infantil; Saúde mental e bem-estar.

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