26 abr, 2024 - 06:44 • Marisa Gonçalves
“Que sempre seja 25 de abril para o povo português”, diz ao telefone Abdul Aqra, nas suas primeiras palavras, numa língua que mal conhece, mas da qual gostaria de saber mais.
A milhares de quilómetros de distância, os ecos das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril também chegaram a território palestiniano, onde a guerra tem imperado.
Abdul Aqra confessa-se um recém apaixonado pela cultura portuguesa e, em declarações à Renascença, diz que a revolução dos capitães de Abril é um bom exemplo de como conquistar a libertação de um povo.
“A revolução portuguesa representa para mim a vontade humana de um povo que quer viver livre e prosperar. O mais interessante é que este povo realizou a sua vontade através de uma ferramenta fraca, que é uma flor. O cravo vermelho espalha perfume em vez de sangue”, afirma.
Médico e professor universitário na Universidade Nacional An-Najah, em Nablus, cidade na Cisjordânia, Abdul Aqra diz que gostaria de ver os valores de Abril a florescer na Palestina.
“Como palestiniano desejo o mesmo. O meu país merece paz, merece prosperar, merece a liberdade, tal como outros povos do mundo. O meu sentimento não é bom. Como médico, como ser humano e como palestiniano, estou profundamente triste. Desejo que as coisas possam mudar para a glória do povo palestiniano”, declara.
Neste relato desde a Cisjordânia, Abdul Aqra descreve uma situação muito difícil na Faixa de Gaza. Ainda assim, afirma-se confiante numa solução para o futuro.
“É uma catástrofe humana, infelizmente. Mas, eu quero dizer que a esperança morre em último, como dizem em português”.
Justamente em sinal de esperança, Abdul Aqra preparou-se para viver o seu 25 de Abril. Plantou cravos e esperou que florissem nesta época.
“Decidi festejar com o povo português, desde longe, à minha maneira. No mês passado plantei sementes de cravo, no jardim de casa, para florescerem em Abril e estarem frescos neste dia”, conta.
Abdul Aqra diz apreciar a história do povo português e sente-se cada vez mais interessado em conhecer outros factos relacionados com Portugal.
“A história portuguesa é muito impressionante para mim porque trata-se de um pequeno povo que fez grandes coisas. Por exemplo, descobrir novas terras no mundo”, explica.
Desde a Cisjordânia, Abdul Aqra espera uma revolução para o povo da Palestina.
Este médico e professor universitário palestiniano é ouvinte do Programa Oceano Pacífico, apresentado por Ana Colaço, locutora e produtora da RFM, rádio que faz parte do Grupo Renascença Multimédia.
Abdul Aqra diz que a rádio o ajuda a aprender melhor a língua portuguesa e garante que "vai estando sempre atento", do outro lado do mundo.