02 mai, 2024 - 08:16 • Diogo Camilo
Nos primeiros dias de 2020, o mundo inteiro enfrentava um novo surto de um vírus do qual tinha poucas informações. Zhang Yongzhen, virologista, foi o primeiro a descodificar a sequência genética do vírus que causa a Covid-19.
A descoberta foi um passo crucial para o combate da pandemia, abrindo portas à identificação do vírus e da criação de vacinas para o combater. Mas para Zhang, o trabalho valeu-lhe entraves ao seu trabalho.
Na passada quinta-feira, Zhang e a sua equipa foram alertados de que tinham que sair do seu laboratório, no Centro Clínico de Saúde Pública de Xangai. O pretexto, segundo uma publicação do virologista que foi mais tarde apagada, era de que o laboratório seria renovado, dando apenas dois dias à equipa de investigação para sair.
Em protesto, nas noites de domingo e segunda-feira, Zhang decidiu dormir à porta do laboratório. À Nature, o virologista descreveu que a sua situação é “horrível”. “Não sabem aquilo por que passei”, diz.
Resultou. Esta segunda-feira, o Centro Clínico de Saúde Pública de Xangai divulgou em comunicado que o laboratório de Zhang foi fechado por “razões de segurança” e que foi oferecido um laboratório alternativo. No mesmo dia, a equipa recebeu uma notificação depois da ordem de despejo.
Nas redes sociais, Zhang anunciou esta quarta-feira que o centro clínico "aceitou provisoriamente" que ele e a sua equipa voltassem ao laboratório e continuassem a sua investigação.
O tormento de Zhang começou a 5 de janeiro de 2020, quando descodificou o vírus e escreveu um aviso interno às autoridades chinesas sobre o potencial do vírus se espalhar. No dia seguinte, o laboratório do virologista recebeu ordem para fechar temporariamente pela entidade de saúde pública chinesa.
Nessa mesma altura, a China informou que várias dezenas de pessoas estavam a ser tratadas devido a infeção por uma doença respiratória, na cidade central de Wuhan. Zhang publicou a sua sequência do coronavírus em 11 de janeiro de 2020, apesar da falta de autorização.