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Reino Unido

Escândalo de apostas ilegais nas eleições abala Partido Conservador

21 jun, 2024 - 00:13 • João Pedro Quesado

O diretor de campanha do partido, uma candidata, um assessor parlamentar de grande confiança e até um agente da equipa de proteção policial do primeiro-ministro do Reino Unido estão a ser investigados por apostas certeiras sobre a data das eleições.

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Pelo menos três elementos do Partido Conservador, do Reino Unido, estão a ser investigados por alegadas apostas ilegais na data das eleições legislativas do país, marcadas para 4 de julho por Rishi Sunak, o atual primeiro-ministro - que disse esta quinta-feira estar "incrivelmente zangado" com a possibilidade. Os números das sondagens já indicam uma derrota esmagadora para o atual partido de governo.

Esta quarta-feira, o diretor de campanha dos Conservadores, Tony Lee, afastou-se da campanha ,segundo o "Financial Times", depois de ser conhecido que tanto ele como a mulher, Laura Saunders, estavam a ser investigados pela entidade reguladora do mercado de apostas britânico por apostar sobre a data das eleições legislativas do Reino Unido.

Laura Sanders é também candidata do Partido Conservador no círculo de Bristol Noroeste. Funcionária do partido desde 2015, Laura Sanders foi o segundo nome a ser revelado pela "BBC" como estando sob investigação pela entidade reguladora, a Comissão de Apostas.

O primeiro nome conhecido, a 12 de junho, foi o de Craig Williams, secretário particular parlamentar do primeiro-ministro britânico, que é também deputado na Câmara dos Comuns.

Segundo a notícia do jornal "The Guardian", Williams terá apostado mais de 100 euros em como as eleições legislativas do Reino Unido seriam em julho, apenas três dias antes de Rishi Sunak anunciar a data das eleições. O cargo de secretário particular parlamentar do primeiro-ministro é considerado de elevada confiança.

Craig Williams admitiu ainda nesse dia ter feito uma aposta sobre as eleições "há algumas semanas". A aposta poderia ter um retorno de quase 600 euros.

De acordo com a "BBC", o uso de informação confidencial para ganhar uma vantagem injusta numa aposta pode constituir uma ofensa de fraude, que é considerada crime.

Também segundo a "BBC", um agente da unidade de proteção policial do primeiro-ministro foi detido também por uma alegada aposta na data das eleições legislativas britânicas.

O "Financial Times" avançou esta quinta-feira que uma série pouco habitual de apostas em como as eleições legislativas seriam em julho foi realizada até ao dia anterior ao anúncio de Rishi Sunak, num momento em que as probabilidades apontavam apenas 25% de hipóteses de a eleição decorrer nesse mês. O dia anterior, em particular, conta com apostas num valor acumulado acima de 3.200 euros.

Num debate no programa "Question Time", da "BBC", Sunak lamentou o caso, disse estar "profundamente zangado com as eleições" e apontou ser correto "estarem a ser investigados".

Conservadores em risco de "extinção eleitoral"

As regras vigentes no Reino Unido colocam praticamente apenas nas mãos de quem ocupa o número 10 de Downing Street a decisão da data das eleições no ano de termo do mandato. A convocação das eleições dissolve automaticamente a câmara baixa do Parlamento, a Câmara dos Comuns, e impede toda a atividade legislativa.

A 22 de maio, Rishi Sunak surpreendeu o país ao marcar as eleições para 4 de julho, depois de se especular que poderia escolher datas mais tardias no ano, nomeadamente no outono, para beneficiar de uma recuperação da economia após um abrandamento da inflação.

Este escândalo de apostas é mais um golpe na campanha dos Conservadores, num ano em que já é esperada uma "extinção eleitoral" do partido. As sondagens apontam entre 15 a 25 pontos de vantagem dos trabalhistas do Labour face aos Conservadores.

No sistema eleitoral do Reino Unido, que elege 650 deputados, são utilizados círculos uninominais - cada círculo elege apenas um deputado, o mais votado. Isso significa que uma queda generalizada do apoio a um partido, mesmo que o coloque apenas em segundo lugar na maioria dos círculos em vez de primeiro, pode resultar numa redução abrupta do número de deputados desse partido.

Em 2019, com Boris Johnson a liderar o partido, os Conservadores elegeram 365 deputados e festejaram a conquista da chamada "parede vermelha" dos Trabalhistas - composta por distritos eleitorais no Centro e Norte de Inglaterra que historicamente deram sempre a vitória ao Labour, então liderado por Jeremy Corbyn.

Agora, o Partido Conservador pode nem sequer atingir os 100 deputados, enquanto os Trabalhistas podem exceder os 450 - quando tinham pouco mais de 200 deputados.

Os Conservadores governam o país desde 2010, ano em que se coligaram com os Liberais Democratas para obter maioria absoluta e remover os Trabalhistas de Downing Street. David Cameron, então líder, ainda conquistou uma maioria absoluta em 2015, antes de se demitir após o referendo do Brexit, mas o partido perdeu-a em 2017, já com Theresa May ao leme - obrigando a uma coligação com o Partido Democrático Unionista da Irlanda do Norte num momento sensível das negociações do Brexit.

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