08 jul, 2024 - 10:00 • Daniela Espírito Santo , João Malheiro com agências
Várias explosões foram ouvidas esta segunda-feira no centro de Kiev após as defesas antiaéreas terem sido ativadas para repelir um ataque russo contra a capital do país, segundo as autoridades ucranianas. No total, serão pelo menos 36 os mortos em todo o país.
Há pelo menos dez mortos e 35 feridos já confirmados só em Kiev, adiantou o chefe da administração militar da cidade, via Telegram. Um hospital pediátrico também terá sido atingido, entre outras infraestruturas e edifícios. Segundo adianta o britânico The Guardian, trata-se do hospital Okhmatdyt, o maior centro hospitalar pediátrico da Ucrânia.
O ataque ao hospital de Okhmatdyt foi já confirmado pelo Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, no X (antigo Twitter). Naquela rede social, Zelensky assegura que este é um dos hospitais pediátricos mais importantes do país, mas "também da Europa" e promete retaliar.
O hospital em causa é líder nacional no tratamento de crianças com cancro. "Okhmatdyt tem salvado a vida e devolvido a saúde a milhares de crianças. Agora que foi danificado por um ataque russo, há pessoas nos escombros e o número exato de vítimas não é conhecido", assegura Zelensky.
Neste momento, os esforços "de todos estão em ajudar a limpar os escombros", esforços esses que estão a ocupar "médicos e pessoas comuns". O que sobrou do edifício foi evacuado esta tarde, uma vez que o hospital ficou sem eletricidade e água. As crianças que se encontravam em tratamento foram transferidas para outros hospitais próximos, avançou o ministro da saúde ucraniano.
"A Rússia não pode dizer que não sabe para onde vão os seus mísseis e tem de ser responsabilizada pelos seus crimes. Crimes contra pessoas, contra crianças, contra a Humanidade em geral. É muito importante que o mundo não se mantenha em silêncio sobre isto agora e que toda a gente veja a Rússia por aquilo que é e o que está a fazer", remata.
Já esta segunda-feira à tarde foi confirmado que outro hospital - desta feita uma maternidade - foi atingido por destroços. Quatro pessoas morreram e outras três ficaram feridas, segundo os primeiros dados oficiais, mas o número de vítimas pode vir a aumentar nas próximas horas.
"É um dos piores ataques" desde o início da guerra, admite à Reuters, por sua vez, Vitali Klitschko, presidente da autarquia de Kiev.
O mesmo chefe da administração militar confirmou à agência de notícias EFE o ataque russo após ter divulgado um alerta para um ataque "massivo" contra "toda a Ucrânia" naquela rede social.
"Vizinhos de Kiev! Ataque de mísseis! As defesas aéreas foram ativadas na região. Mantenha o silêncio informativo. Pedimos para não gravarem ou publicarem o trabalho dos nossos defensores nas redes. Fiquem nos abrigos até ao final do alerta aéreo", referiu a publicação do Telegram da Administração Militar de Kiev.
O autarca da capital, Vitali Klitschko, anunciou o envio de equipas de socorro para tratar possíveis vítimas no distrito de Solomianski, na zona oeste da capital ucraniana.
Outro ataque na cidade de Kryvyi Rih, cidade-natal de Zelensky, já fez pelo menos onze mortos e mais de 40 feridos. Mais ataques estão a acontecer em simultâneo por todo o país, avança a agência Reuters.
O governador da região de Donetsk também confirmou a existência de três vítimas mortais num ataque russo na cidade de Pokrovsk.
"Terroristas russos mais uma vez atacaram massivamente a Ucrânia com mísseis. Diferentes cidades: Kiev, Dnipro, Kryvy Rig, Sloviansk, Kramatorsk. Mais de 40 mísseis de vários tipos. Edifícios residenciais, infraestrutura e um hospital pediátrico ficaram danificados", adiantou o Presidente ucraniano, nas redes sociais.
O Ministério da Defesa já confirmou os ataques, adiantando que visavam alvos "da indústria da defesa e bases de aviação". Em comunicado, o ministério assegura que esta é uma forma de retaliação após um ataque similar à Rússia, mas sem fornecer provas.
"Em resposta às tentativas do regime de Kiev de danificar instalações energéticas e económicas russas, as forças armadas da Federação Russa realizaram um ataque com armas de precisão de longo alcance contra instalações da indústria militar ucraniana e bases aéreas", é dito. "Os objetivos foram alcançados".
No entanto, a Rússia nega que tenha havido ataques a áreas civis de Kiev, como, por exemplo, o que terá causado a destruição de um hospital pediátrico.
Como explicação alternativa, o Kremlin alega que os danos provocados esta segunda-feira na capital ucraniana foram provocados pela "queda de um míssil antiaéreo ucraniano".
Este incidente acontece numa altura em que Zelensky está em Varsóvia antes de seguir para Washington para a cimeira da NATO. Enquanto Zelensky está com Tusk, Putin recebe o líder indiano Narendra Modi em Moscovo.
A comunidade internacional já reagiu ao sucedido, condenando a Rússia. As Nações Unidas falam em "nova onda de ataques mortais" das forças armadas russas. A coordenadora humanitária para a Ucrânia, Denise Brown, relembra que a lei internacional confere "proteção especial a hospitais" porque "os civis têm de ser protegidos". "É injusto que crianças sejam mortas e feridas nesta guerra", lamenta.
Já a Itália vai mais longe e fala em "crime de guerra".
"Estou chocado com as imagens dos atentados em Kiev. Crimes de guerra devem ser condenados por toda a comunidade internacional", admite Antonio Tajani, ministro dos negócios estrangeiros italiano, no X.
[Em atualização]