15 jul, 2024 - 22:55 • João Pedro Quesado com Lusa
A presidente da Comissão Europeia pediu aos comissários para faltarem às reuniões informais de ministros durante a presidência húngara do Conselho da União Europeia, e excluiu a habitual visita do Colégio de Comissários ao país que acolhe a presidência rotativa.
A Hungria assumiu o papel a 1 de julho, mas uma série de visitas de Viktor Orbán a Vladimir Putin, Xi Jinping e Donald Trump colocaram a paciência de Bruxelas à prova.
"Tendo em conta os recentes acontecimentos que marcam o início da presidência húngara [do Conselho da UE], a presidente decidiu que a Comissão Europeia será representada a nível de altos funcionários apenas durante as reuniões informais do Conselho", informou o porta-voz principal do executivo comunitário, Eric Mamer, numa publicação na rede social X (antigo Twitter).
"A visita do Colégio [de comissários] à presidência não se realizará", adiantou o responsável, numa alusão à viagem que se deveria realizar no arranque da liderança semestral da Hungria, que começou no início de julho.
A decisão surge dias depois de os embaixadores dos países junto da UE terem discutido o papel da presidência húngara rotativa do Conselho, perante uma preocupação crescente nas capitais europeias sobre as polémicas deslocações do primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban.
O encontro de Orbán com o Presidente russo, Vladimir Putin, foi o que mais contestação provocou na UE. Seguiram-se ainda encontros com o Presidente chinês, Xi Jinping, e com o ex-Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump - este último logo após o encerramento da cimeira da NATO em Washington. Somam-se ainda visitas ao Azerbaijão e países vizinhos, assim como contactos com a Turquia numa cimeira onde estava representada a "República Turca do Chipre do Norte" - um país que apenas a Turquia reconhece.
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As visitas do primeiro-ministro húngaro provocaram a ira dos vários líderes europeus, com Ursula von der Leyen, Charles Michel e Josep Borrell a desautorizarem publicamente Orbán, apontando que não representa a UE e os 27 Estados-membros em termos de política externa.
A decisão de Ursula von der Leyen surge no início da semana em que o Parlamento Europeu vai votar a sua reeleição como presidente da Comissão Europeia, o que acontece na quinta-feira, dia 18 de julho, ao início da tarde. A alemã precisa de uma maioria absoluta dos eurodeputados presentes na sessão para continuar a ocupar o cargo - em 2019 recebeu 383 votos, apenas nove acima do mínimo necessário.
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Perante as recentes polémicas, algumas bancadas parlamentares (como os liberais) sugeriram encurtar os seis meses da presidência húngara e passar já a presidência do Conselho da UE para a Polónia, que seria a seguir, enquanto alguns Estados-membros (nomeadamente os nórdicos) estão a decidir ser representados por funcionários e não por governantes nas reuniões informais em Budapeste, como forma de protesto.
A Comissão Europeia também tem mantido um diferendo com a Hungria pelo desrespeito do Estado de direito.