28 jul, 2024 - 22:13 • Sandra Afonso
Amarelo, azul e vermelho. As cores da Venezuela desfilaram ao final da tarde na Praça dos Restauradores, em Lisboa, em bandeiras, chapéus e t-shirts, numa manifestação carregada ainda de esperança pela mudança no país que um dia foram obrigados a deixar.
Não eram muitos, algumas dezenas, mas fizeram-se ouvir e saíram com a certeza de que não estão sozinhos, a cada apito, a cada saudação de quem ao acaso se cruzava com eles. Quando a palavra era Maduro, o ruído aumentava, mas os sorrisos nunca desarmaram porque “é agora”.
A maioria chegou à praça sem sequer ter conseguido votar, como a luso-descendente Maria Antonieta da Silva, uma entre cerca de 30 mil que não completaram o registo e por isso ficaram de fora destas eleições. Na prática, entre os mais de 32 mil eleitores em Portugal, apenas estavam registados para estas eleições 1.100 no Funchal e 530 em Lisboa.
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Maria, há sete anos em Portugal, assume a responsabilidade, pensou “que tudo era automático como antes”, por isso falhou estas eleições. Mas fala com um sorriso, não será assim que vão impedir a mudança, confia na “liberdade tão desejada, tão esperada”, espera ainda “que seja uma transição de paz, que se respeite o voto”.
Também Fernando Rodriguez acredita na mudança, “hoje sim!”. Diz que até “a população que ainda era chavista já está a abrir os olhos e a pensar em si”. “Agora sim”, acrescenta, “vamos ter os números suficientes para fazer essa mudança que já estamos à espera há mais de 20 anos”.
Na Venezuela, ainda antes das urnas encerrarem, as sondagens já davam a vitória à oposição e a mensagem corria veloz nas redes sociais. Nicolas Maduro começou o dia a prometer que iria respeitar a vontade do povo, mas durante a campanha ameaçou com um "banho de sangue" e uma guerra civil se não conseguisse um terceiro mandato de seis anos.
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Fernando está otimista e acredita que Maduro irá mesmo aceitar, caso se confirme a derrota, devido “á quantidade de votos da oposição”, ele vai acabar por “entender de uma vez por todas que já é hora”. Já Maria acredita que Nicolás Maduro “é capaz de fazer qualquer coisa”, mas “confia em Deus de que vai ser assessorado e que aceite que já passou o seu tempo, é hora de dar o lugar a outros”.
Alexander Costa, em Portugal há menos de ano e meio, tem “toda a fé que nestas eleições vamos conhecer a forçar do povo venezuelano e vai cair a tirania, vamos mudar de governo”.
A esperança cai nos ombros do diplomata reformado Edmundo Urrutia, que substituiu a candidata María Corina Machado, que o regime impediu de se candidatar. Ainda que Fernando admita que no seu caso já chega tarde, com mais de 50 anos já não imagina começar tudo do zero, mesmo que seja na Venezuela. “Começar aqui aos 50 anos já foi difícil, vou deixar isso para os mais jovens e eu acabo a minha vida aqui, que é o país dos meus pais e considero que é também o meu país”.
Para muitos outros, em Portugal e noutros destinos espalhados pelo mundo, uma mudança de regime é tudo o que esperam para comprar o bilhete de regresso a casa.