30 jul, 2024 - 01:50 • Marisa Gonçalves
Várias cidades venezuelanas tornaram-se palco de protestos, esta segunda-feira, contra os resultados das eleições presidenciais que deram a vitória a Nicolás Maduro.
Fátima Pontes, uma lusodescendente a viver na cidade de Valência, no estado de Carabobo, e também conselheira das Comunidades Portuguesas na Venezuela, confirma à Renascença que o clima é de tensão.
“Toda a Venezuela está a sair à rua. O povo não está contente com os resultados porque sabe que houve fraude, e a Guardia [Guardia Nacional Bolivariana] está a contra-atacar com gás lacrimogénio e estamos a ver balas também. Não estou a gostar desta situação”, declara.
Como conselheira das Comunidades Portuguesas na Venezuela, Fátima Pontes diz que tem recebido mensagens de preocupação, através do telemóvel e das redes sociais.
“Por exemplo, tenho várias mensagens de WhatsApp com portugueses a dizerem que estão muito preocupados e estão a acompanhar cada momento que passa. Só peço que tenhamos muita serenidade e cautela. Eu não gostaria de passar outros dias como em 2017”, confessa.
O candidato Edmundo Gonzalez Urrutia, apoiado pela(...)
Nesse ano, protestos da oposição ao regime de Nicolás Maduro, em toda a Venezuela, fizeram vários feridos e vítimas mortais. A capital, Caracas, assistiu a confrontos violentos numa manifestação encabeçada pelo então líder da oposição, Henrique Capriles, que tinha sido impedido pela justiça de exercer cargos públicos durante 15 anos.
Nos protestos desta segunda-feira, Fátima Pontes relata que os manifestantes derrubaram uma estátua de Hugo Chávez, que presidiu o país entre 1999 e 2013.
“Pelo menos há uma cidade chamada Coro, onde acaba de ser derrubaram uma estátua do Chávez, para se ver como está a situação. O povo não quer já esta parte esquerdista no Governo, está farto”, aponta.
Fátima Pontes, também professora universitária, diz que os protestos já estão a afetar o regular funcionamento das aulas. “Eu sou professora na universidade de Carabobo e acabámos de receber um comunicado da nossa Reitora que está a proibir o regresso às aulas, até que se clarifique a situação”, revela.
No domingo à noite, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) adiantou que Maduro foi reeleito para um terceiro mandato consecutivo com 51,20% dos votos, à frente do candidato da oposição Edmundo Gonzalez Urrutia, que obteve pouco menos de 4,5 milhões (44,2%).
Representação diplomática apela a que os cidadãos (...)
A oposição venezuelana contestou esta segunda-feira a proclamação de Nicolás Maduro como Presidente e garante que venceu as eleições, com base em 73,2% das atas eleitorais.
O candidato Edmundo Gonzalez Urrutia tem cerca de quatro milhões de votos de vantagem sobre Maduro, segundo a oposição.
A União Europeia veio desafiar as autoridades da Venezuela a divulgar os registos oficiais da votação do passado domingo.
Em comunicado, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, sublinhou que os resultados eleitorais da Venezuela não podem ser considerados até que todos os registos oficiais sejam “publicados e verificados”.
Entretanto, a Venezuela anunciou a retirada do seu pessoal diplomático de sete países latino-americanos, em reação “contra a ingerência “dos governos que contestam a reeleição de Nicolás Maduro, tal como a oposição.
Caracas considera que a posição destes governos, Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai, "mina a soberania nacional" e solicitou que os seus diplomatas abandonem os países, revelou, em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros.