05 ago, 2024 - 16:40 • Reuters, Lusa
A primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, renunciou e fugiu do país nesta segunda-feira na sequência da onda de protestos contra o governo e que já levaram à morte de centenas de pessoas devido à repressão policial das manifestações. Um governo interino será formado, mas sem incluir o partido de Hasina, anunciou o chefe do exército.
Esta segunda-feira, uma multidão invadiu os terrenos da residência presidencial sem qualquer oposição, saqueando o interior do edifício. Um homem, por exemplo, equilibrava uma cadeira de veludo vermelho com bordas douradas na cabeça. Outro segurava uma braçada de vasos. Noutro ponto de Daca, diversos manifestantes subiram ao topo de uma estátua do pai de Hasina, o fundador do Estado, Sheikh Mujibur Rahman, e começaram a cinzelar a cabeça da estátua com um machado.
O chefe do exército, o general Waker-Uz-Zaman, anunciou a renúncia da primeira-ministra durante um discurso transmitido na televisão, no qual anunciou à nação que será formado um governo interino. No discurso, apelou à paz e prometeu justiça para aqueles que foram mortos durantes a agitação.
Em breve, explicou, irá reunir-se também com o presidente Mohammed Shahabuddin para discutir o caminho que o país deve seguir.
O Presidente do Bangladesh, Mohammed Shahabuddin, determinou esta segunda-feira a libertação da ex-primeira-ministra e líder da oposição Khaleda Zia, bem como dos detidos durante os protestos, horas depois da fuga do país da atual chefe do Governo, Sheikh Hasina.
Após uma reunião, Shahabuddin "decidiu por unanimidade libertar imediatamente a presidente do Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP), Begum Khaleda Zia", e "todos os detidos durante os protestos estudantis", de acordo com uma nota da presidência.
Khaleda Zia, 78 anos, está com a saúde debilitada e hospitalizada desde que foi condenada a 17 anos de prisão por corrupção, em 2018.
Os representantes do movimento estudantil, que est(...)
Na reunião foi determinado "formar imediatamente um governo interino", divulgou ainda a presidência do Bangladesh, país que regista semanas de violência nas ruas, marcadas por centenas de mortos.
Além de Shahabuddin, esteve na reunião o chefe do Exército, o general Waker-Uz-Zaman, chefes da Marinha e da Força Aérea e líderes de vários partidos da oposição, incluindo o BNP e o Jamaat-e-Islami.
O Exército anunciou ainda, em comunicado, o levantamento do recolher obrigatório e a reabertura de "escritórios, fábricas, escolas, universidades" e empresas a partir das 06:00 (01:00 em Lisboa) de terça-feira.
A primeira-ministra, Sheikh Hasina, tem sido contestada desde julho, através de grandes manifestações que exigiam o fim de um sistema de quotas para contratações no setor público e acabaram por exigir a sua saída do poder.
No poder há cerca de quinze anos, fugiu hoje do Bangladesh, pouco antes de os manifestantes invadirem e saquearem a sua residência na capital, Daca, um dia depois dos confrontos que fizeram quase 300 mortos no país.
Os estudantes manifestam-se contra o sistema de qu(...)
Milhares de pessoas reuniram-se hoje em frente à residência oficial da primeira-ministra em Daca. Depois de a notícia da sua partida se ter tornado pública, muitas delas invadiram o edifício, de acordo com as imagens divulgadas pelos canais de televisão bengalis.
O Canal 24 do Bangladesh mostrou imagens de dezenas de pessoas na residência oficial, Ganabhaban, a transportar mobiliário, frigoríficos e até loiça, num clima de vitória.
Muitos deles pararam para acenar às câmaras de televisão, de braços erguidos, após meses de protestos.
Novos episódios de violência causaram hoje pelo menos 56 mortos, de acordo com a agência France-Presse (AFP) que cita fontes do Hospital Universitário de Dhaka, que reportou 44 mortos, e da polícia, que registou outras 11 mortes na capital e outra na cidade portuária de Chittagong.