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Primeiro-ministro britânico reúne-se com a polícia para tentar travar tumultos anti-imigração

05 ago, 2024 - 10:39 • João Carlos Malta com Reuters

O assassinato das três crianças em Southport criou um conjunto de protestos anti-imigração e islamofóbicos que estão a varrer o Reino Unido. O governo está preocupado e as forças extremistas estão a tentar capitalizar o momento.

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O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, vai realizar uma reunião de emergência com os chefes da polícia, esta segunda-feira, após a intensificação dos protestos violentos anti-imigração, em que se sucederam os casos de edifícios e veículos incendiados e hotéis que mantinham requerentes de asilo como alvos.

Os motins eclodiram em vilas e cidades inglesas na última semana, depois de três raparigas terem sido mortas num ataque com uma faca em Southport, no noroeste de Inglaterra. Estes incidentes já levaram à detenção de 420 pessoas até ao momento. Houve cenas de destruição em vilas e cidades de todo o país - tendo como alvos mesquitas, bibliotecas e um centro de aconselhamento ao cidadão.

No fim de semana, hotéis que albergavam requerentes de asilo foram atacados.

Os grupos anti-imigrantes e anti-muçulmanos espalharam desinformação online que afirmavam que o agressor era um islamista radical que acabara de chegar a Inglaterra. A polícia disse que o suspeito nasceu naquele país e não está a tratar este caso como um ataque terrorista.

Keir Starmer prometeu que os envolvidos nos distúrbios "sentiriam toda a força da lei", dizendo que aqueles que se envolvessem na "violência de extrema-direita" se arrependeriam das suas ações.

Em muitos locais, foram realizados contra-protestos - muitas vezes ultrapassando largamente a presença da extrema-direita e, por vezes, resultaram em confrontos.

Na sequência da morte das três crianças, um rapaz de 17 anos, originário de Cardiff, foi detido. Na internet, começaram a circular alegações falsas– incluindo sugestões incorretas de que era um requerente de asilo. Alguns sugeriram que o suspeito tinha chegado ao Reino Unido de barco no ano passado – tratando-se de mais uma alegação falsa.

Foi também incorretamente rotulado de "imigrante muçulmano" e erroneamente nomeado como "Ali al Shakati".

No meio de todas estas falsas especulações, um tribunal suspendeu a exigência de anonimato e o suspeito foi identificado como Axel Rudakubana – que nasceu em Cardiff, filho de pais ruandeses.

Compareceu em tribunal acusado de três crimes de homicídio, 10 crimes de tentativa de homicídio e posse de uma faca.

A ministra do Interior, Yvette Cooper, disse que os manifestantes se sentiram "encorajados pelos acontecimentos para incitar o ódio racial", com tijolos atirados contra agentes da polícia, lojas saqueadas e mesquitas e empresas de propriedade asiática atacadas.

Durante o fim de semana, eclodiram tumultos em Liverpool, Bristol, Tamworth, Middlesbrough e Belfast, na Irlanda do Norte, sendo que quem os incorpora são jovens do sexo masculino a usar passa-montanhas e envoltos em bandeiras britânicas, atirando pedras e gritando "Parem os Barcos", numa referência aos migrantes que chegam à costa sul nos últimos anos.

Em Rotherham, no norte de Inglaterra, os manifestantes tentaram invadir um hotel que albergava requerentes de asilo.

A liberal democrata Layla Moran disse à Sky News que "bandidos extremistas de extrema-direita" estavam a organizar-se online e que eram necessários mais recursos para impedir as "publicações".

A deputada disse que teve dificuldade em remover mensagens sobre um evento “totalmente fabricado” em Oxford – uma cidade do seu distrito eleitoral.

“Estes tumultos são, em parte, alimentados por mentiras completas que são depois espalhadas nestas plataformas de redes sociais”, disse Moran.

Polícia culpa desinformação online

A Polícia culpou a desinformação online, amplificada por figuras de destaque, pela condução da violência.

Um dos mais proeminentes, Stephen Yaxley-Lennon, que liderou o grupo anti-islâmico Liga de Defesa Inglesa, foi responsabilizado pelos media por espalhar desinformação aos seus 875 mil seguidores no X.

Estão a mentir-vos a todos”, escreveu Yaxley-Lennon, conhecido pelo pseudónimo de Tommy Robinson. "Tentaram virar a nação contra mim. Preciso de ti, és a minha voz."

Elon Musk, dono do X, também deu opinião sobre a violência. Respondeu a uma publicação no X que culpava a migração em massa e as fronteiras abertas pela desordem na Grã-Bretanha, escreveu: “A guerra civil é inevitável”.

Os rumores foram alimentados nas redes socais por vários nomes de extrema-direita, como o já citado Tommy Robinson e Andrew Tate.

O deputado Nigel Farage questionou se a polícia, que afirmou que o ataque não estava "relacionado com o terrorismo", estava a ser verdadeira.

“A polícia diz que não é um incidente terrorista, tal como disse que o esfaqueamento de um tenente-coronel do exército fardado nas ruas de Kent, no outro dia, foi um incidente não terrorista”, disse o líder reformista.

"Só me pergunto se a verdade nos está a ser ocultada. Não sei a resposta a isso, mas acho que é uma pergunta justa e legítima", disse o líder do Reform UK.

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