13 ago, 2024 - 22:57 • Reuters
Apenas um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, resultante das aguardadas negociações de 15 de agosto, pode impedir o Irão de retaliar diretamente contra Israel pelo assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em seu território, segundo altos responsáveis iranianos. Joe Biden confirmou esta terça-feira que espera que o Irão atrase um ataque se for alcançado um cessar-fogo.
O Irão prometeu uma resposta severa ao assassinato de Haniyeh, que ocorreu quando este visitou Teerão no final do mês passado e que culpou em Israel. Israel não confirmou nem negou o envolvimento. A Marinha dos EUA enviou navios de guerra e um submarino para o Médio Oriente para reforçar as defesas israelitas.
Uma das fontes, um alto funcionário de segurança iraniano, disse que o Irão, junto com aliados como o Hezbollah, lançaria um ataque direto se as negociações para um cessar-fogo em Gaza fracassassem ou se percebesse que Israel está a arrastar as conversações. As fontes não disseram quanto tempo o Irão permitiria que as negociações progredissem antes de responder.
Com o aumento do risco de uma guerra mais ampla no Médio Oriente após os assassinatos de Haniyeh e do comandante do Hezbollah, Fuad Shukr, o Irão tem-se envolvido, nos últimos dias, num diálogo intenso com países ocidentais e os Estados Unidos sobre maneiras de calibrar a retaliação, apontaram as fontes, que falaram sob condição de anonimato devido à sensibilidade do assunto.
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Em comentários publicados na terça-feira, o embaixador dos EUA na Turquia confirmou que Washington estava a pedir aos aliados que ajudassem a convencer o Irão a diminuir as tensões. Três fontes do governo regional descreveram conversas com Teerão para evitar a escalada antes das negociações de cessar-fogo em Gaza, que devem começar na quinta-feira no Egito ou no Catar.
"Esperamos que a nossa resposta seja planeada e executada de uma forma que não prejudique um potencial cessar-fogo", disse a missão do Irão na ONU na sexta-feira. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão disse na terça-feira que os apelos para exercer contenção "contradizem os princípios do direito internacional".
"Algo pode acontecer ainda esta semana pelo Irão e seus representantes... Essa é uma avaliação dos EUA e também de Israel", disse o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, aos repórteres na segunda-feira.
"Se algo acontecer esta semana, o momento certo certamente poderá ter um impacto nas negociações que queremos realizar na quinta-feira", acrescentou.
Esta terça-feira, Joe Biden confirmou que espera que o Irão se retraia de atacar Israel caso seja alcançado um acordo de cessar-fogo e de troca de reféns e prisioneiros nos próximos dias. A Casa Branca receia que um ataque do Irão, ou do Hezbollah, a Israel nos próximos dias possa sabotar as negociações e acabar com as hipóteses de chegar a acordo.
Questionado pelos jornalistas se espera que o Irão atrase um ataque de retaliação em caso de acordo, Biden respondeu que "é essa a minha expectativa". "Vamos ver o que o Irão faz. Vamos ver o que acontece", disse o Presidente dos EUA.
Contudo, o Hamas anunciou, também esta terça-feira, que não vai estar nas negociações de cessar-fogo agendadas para quinta-feira, 15 de agosto. O grupo militante apontou o dedo ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, dizendo que este "não está interessado em chegar a um acordo que termine completamente com a agressão".
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O analista Saeed Laylaz, baseado no Irão, apontou que os líderes da República Islâmica estão interessados em trabalhar para um cessar-fogo em Gaza, "para obter incentivos, evitar uma guerra total e fortalecer sua posição na região".
Laylaz apontou que o Irão não estava envolvido anteriormente no processo de paz para a Faixa de Gaza, mas agora estava pronto para desempenhar "um papel fundamental".
O Irão, segundo duas das fontes, considerou enviar um representante para as negociações de cessar-fogo. No entanto, o representante não compareceria diretamente às reuniões, mas envolver-se-ia em discussões nos bastidores "para manter uma linha de comunicação diplomática" com os Estados Unidos enquanto as negociações prosseguem.
Duas fontes importantes próximas ao Hezbollah, no Líbano, disseram que Teerão quer dar uma hipóteses às negociações, mas não desistiria da intenção de retaliar.
Um cessar-fogo em Gaza daria ao Irão cobertura para uma resposta "simbólica" menor, disse uma das fontes.